
A Liberdade de Imprensa vive em permanente ameaça nos países onde o poder político está submetido ao poder económico, como é o caso da União Europeia e Estados Unidos da América. Foi nestes grandes blocos que nasceram as “Redacções Únicas” suportadas pelo pensamento amestrado, manipulado ou simplesmente castrado por mensagens informativas falsificadas e contaminadas pelo entretenimento veiculado no Audiovisual e que carrega fortemente nas tintas da estupidificação da pessoa humana.
O domínio das auto-estradas da Informação permite dominar o mundo. É assim desde que agências noticiosas foram instituídas como grandes centrais de intoxicação ideológica, trabalhando em rede, no triângulo constituído por Washington, Londres e Paris. Depois a rede foi alargada a outros subprodutos informativos e hoje atinge até pequenos países sem expressão económica ou demográfica, como é o caso de Portugal.
Acabo de visitar aquele país europeu, dramaticamente intervencionado pela Alemanha, o país europeu que continua de fora da produção de lixo informativo, porque tem poder de compra para pôr ao seu serviço os produtores de informação traficada.
Em Portugal os Direitos Humanos estão em perigo permanente e a sua violação é evidente. Mais de um milhão de portugueses em idade activa estão desempregados. Milhares de crianças passam fome e a mortalidade infantil começa a disparar. Impera o pensamento único consubstanciado em políticas estatais baptizadas de “austeridade” mas que na realidade têm na base velhos conceitos conservadores que fundamentam o terrorismo social.
A comunicação social portuguesa está manietada e é dominada pelos grandes grupos económicos, que por sua vez dominam o poder político. Em Portugal as Redacções foram esvaziadas de jornalistas. Os grandes patrões do sector, onde se inclui o Estado, apostam em assalariados precários, sem ofício nem oficina. Esses exércitos de profissionais dependentes de salários miseráveis são enquadrados por comissários políticos que fazem o papel das vozes autorizadas de um “Big Brother” que tem nome e tem rosto.
Os jornalistas que não obedecem aos controleiros das Redacções são imediatamente despedidos. E a desvinculação é fácil, porque têm vínculos muito precários às empresas de comunicação social. Os profissionais com carreira vão para prateleiras mais ou menos douradas ou são simplesmente saneados.
Que o diga a jornalista Ana Leal, da TVI, que está proibida de entrar na Redacção porque não aceitou actos graves de censura. José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, as “mãos autorizadas” dos donos do canal, ditaram o fim de uma profissional. Judite saiu da RTP e impôs na TVI a lei da rolha e quem não se submeter aos seus caprichos vai para a rua ou fica de castigo no limbo. O pior é que os jornalistas da casa têm dificuldades em perceber o que ela pretende, porque tendo graves defeitos de dicção, é muito difícil perceber aquele português tão peculiar.
Antes de Ana Leal, Mário Crespo, da SIC Notícias, também foi vítima de perseguições na televisão oficial portuguesa e em jornais portugueses. Os chefes de turno não toleraram que expressasse livremente as suas ideias. A liberdade de expressão foi gravemente atacada. Independentemente de estarmos de acordo com ele ou não, estamos perante um profissional competente, experiente e que tem todo o direito de dizer ou escrever o que pensa. Quem não está de acordo, que o confronte num debate franco e aberto, mas nunca com censura. O dono do império mediático, Pinto Balsemão, tem às costas este problema, criado seguramente por alguém acometido de excesso de zelo.
Ainda todos temos fresca na memória a mais revoltante acção de saneamento na RTP. O director de informação, Nuno Santos, foi despedido depois de ter sido alvo de uma conspiração do grupo que há várias décadas domina o que entra e o que sai no canal oficial de Portugal.
A mesma situação é vivida hoje em Portugal por muitos outros profissionais. A Liberdade de Imprensa está em perigo e os jornalistas são sujeitos a intimidações. As organizações internacionais defensoras dos direitos humanos estão caladas. Alguém tem de tomar medidas, para que o salazarismo cheirando ao mofo da censura não volte a fazer escola na terra sagrada de Gil Vicente, Sá de Miranda, Camões, Cavaleiro de Oliveira, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Jorge de Sena ou António Ramos Rosa.
O jornalismo português está a ser a grande vítima da “crise” e das políticas de austeridade. Os direitos humanos em Portugal estão a ser violentados. Alguém tem de ir em socorro de um jornalismo que produziu cronistas da estirpe de um Eduardo Guerra Carneiro, Manuel António Pina ou Brederode dos Santos. (jornaldeangola.com)
Álvaro Domingos