
Um grupo de militantes, entre os quais 11 colaboradores directos do líder da FNLA, defendem a sua substituição, assim como a do deputado Francisco Mendes, na Assembleia Nacional, trocando-os por outros com base no sistema proporcional da lista de deputados deste partido, por alegada falta de intervenção durante as plenárias.
Segundo apurou este jornal, de fonte familiarizada com o assunto, Lucas Ngonda e Francisco Mendes, os únicos deputados eleitos pela FNLA nas eleições gerais de 31 de Agosto de 2012, têm sido pouco interventivos em todas as sessões já realizadas pela Assembleia Nacional, desde a abertura do ano legislativo a 15 de Outubro do ano passado.
De acordo com a fonte, ambos “entram mudos e saem calados” em todas as sessões, limitando-se apenas a levantar as mãos quando são chamados a votar, atitude essa que tem estado a levantar muitas interrogações no seio desta tradicional organização política. “Não é bom para um partido como o nosso limitar-se apenas a votar e não opinar ou comentar”, deplorou.
Avançou que os dois deputados possuem arcaboiço político suficiente para, em pé de igualdade com outros deputados, discutirem assuntos que estejam em abordagem no Parlamento, mas acontece o inverso, para a desilusão dos seus correligionários. “Não sabemos o que lhes falta para emitirem qualquer parecer, até porque no partido têm vários assessores”, interrogou-se a fonte.
Segundo a mesma fonte, o partido possui economistas, cientistas políticos e sociais, médicos, professores universitários renomados que têm estado a assessorar o presidente na elaboração de vários documentos para serem levados à discussão no Parlamento, “mas os nossos deputados não dão conta do recado e fazem o inverso”, declarou.
Disse ainda que desde na vigência desta legislatura nunca houve um debate na Assembleia Nacional sob iniciativa parlamentar da FNLA, situação que tem estado a inquietar os militantes, sobretudo quadros e colaboradores directos do líder do partido.
Atendo-se aos depoimentos da fonte, o facto de serem somente dois deputados, que com base no Regimento Interno do Parlamento não podem constituir uma bancada parlamentar, não os inibe de tecer quaisquer comentários que se lhes ofereça fazer enquanto eleitos do povo.
“Estão aí como figuras decorativas, não fazem nada, não comentam, sobretudo o deputado Francisco Mendes, que nunca soltou o verbo, isso entristece-nos”, apontou o nosso interlocutor, um veterano da luta libertação nacional, para quem a solução é a substituição dos dois para dar lugar a outros, que, segundo ele, poderão fazer a diferença.
Promessa não cumprida
Deplorou, também, o facto de o presidente do partido, Lucas Ngonda, não honrar a sua palavra quando prometeu deixar o Parlamento, o que aconteceria logo após a tomada de posse dos novos deputados, dando lugar a um outro candidato, e ele dedicar-se exclusivamente ao partido.
“Prometeu, mas não quer sair, o que demonstra que não está a ser coerente consigo mesmo”, afirmou, reforçando que quando se toca nesse assunto a nível interno, ele interpreta como se estivesse a ser forçado, quando “ na verdade foi uma decisão unilateral tomada por si, sem coacção de ninguém”, observou.
Para a fonte, o deputado e também líder do partido não acata os conselhos dos seus consultores, fazendo-se passar por “um intelectual que sabe tudo e mais alguma coisa”, e se opõe aos que discordam das suas posições mesmo estando erradas.
Exemplificou com o caso do afastamento de alguns quadros que lhe foram fiéis durante a disputa da liderança com o seu antecessor, o político Ngola Kabangu, tendo ganho a causa em Tribunal, mas “volta e meia afastou estas pessoas, expulsando-os pelo facto de contestarem algumas d das suas decisões sobre a reconciliação interna”.
Reconciliação “ encalha”
Hoje, refere a fonte, o processo interno de reconciliação que estava caminhando bem, inicialmente, está “encalhado” por falta de concessões aos “irmãos” que aos poucos vinham se juntando à nova direcção do partido. “Em política tem de haver cedências e não radicalismo, até porque é um assunto entre membros do mesmo partido, o que não acontece com o presidente do partido”, desabafou.
Reconheceu que o repto lançado por Lucas Ngonda para a reconciliação interna foi uma boa iniciativa, mas agora está com imensas dificuldades para caminhar, acusando o próprio presidente do partido de embaraçar o processo, por não reconhecer o esforço desta comissão, que é coordenada pelo vice-presidente “decorativo” Jorge Vunge Kiazembwa. Aliás, de acordo com a fonte, Jorge Kiazembwa, enquanto vice-presidente do partido, Ngonda não lhe reconhece autoridade nenhuma, ao contrário do secretário-geral Alberto David Mavinga, que tem mais poderes do que o vice. “É com o irmão Mavinga com quem mais despacha do que com vice ”.
Segundo ainda a fonte, Jorge Kiazembwa já manifestou em surdina o seu desagrado pela forma como tem sido “tratado” por Ngonda, tendo aventado a hipótese de voltar à sua terra natal, município da Banga (Kwanza Norte) para dedicar-se à agricultura e cuidar da sua velhice, pois a sua avançada idade, “já não dá para suportar injustiças”, disse a fonte, citando o vice.
Apesar do cargo que ocupa, Kiazembwa locomove-se de táxi “candongueiro” de casa para a sede do partido, ao passo que o presidente “ostenta carros de luxo adquiridos com dinheiro do partido, durante a campanha eleitoral”. Às vezes, segundo a fonte, há uma carrinha da secretaria geral que o apoia. “Só quando está em actividades partidárias de campo”, revelou a fonte.
O PAÍS apurou ainda que o vice está agastado com as condições de acomodação em que vive em Luanda. Vive numa casa apertada, com a família, pois, antes da sua nomeação em 2010, para o seu novo cargo, era o delegado provincial da FNLA no Kwanza Norte.
Aliás, regressou esta semana da sua terra natal, onde, segundo ainda a fonte, esteve a avaliar e a preparar as condições do seu eventual regresso à terra que o viu nascer. “Chegou ontem de Ndalatando onde esteve em visita privada”, precisou a O PAÍS a nossa fonte.
Contactado por este jornal, o porta-voz da FNLA, Ndonda Nzinga evitou entrar em pormenores, mas resumiu dizendo não corresponderem tais informações à verdade dos factos, atribuindo-as a membros expulsos do partido por conduta indecorosa e atropelo aos estatutos.“São informações de pessoas frustradas e expulsas do partido”,afirmou.
Ndonda disse ainda que esses e outros assuntos serão debatidos internamente numa reunião do bureau político que será realizada brevemente em Luanda, cuja agenda abarca oito pontos, um dos quais está ligado a abordagem dos assuntos parlamentares.