Em comunicado de imprensa enviado à agência Lusa em Luanda, assinado pelo vice-presidente António Kitembo, a FLEC apela “ao sentido de responsabilidade do Alto Comando das Forças Armadas de Cabinda” e ao Chefe de Estado-Maior da FLEC-FAC, general Estanislau Boma.
“Nenhum conflito no mundo pode ter solução se as armas não se silenciarem. Por isso apelamos ao Estado-Maior das FLEC-FAC que assumam as suas responsabilidades perante o povo e perante a comunidade internacional e deem uma oportunidade à paz”, destaca a direção política da FLEC.
A paz, considera o vice-presidente da FLEC, “é um caminho longo que começa de forma tímida e que é marcada pela nossa responsabilidade”.
O apelo da direção política da FLEC, exilada em Paris, surge três dias depois de ter elaborado um manifesto de nove páginas, que vai ser envido sexta-feira às autoridades de Luanda, em que a principal organização independentista do enclave angolano de Cabinda formaliza a desistência da luta armada, apelando a negociações para alcançar um estatuto autonómico para o território.
No documento, a que a Lusa teve acesso, e denominado “Esboço de uma Solução Concertada e Negociada”, a FLEC, que é liderada pelo histórico Henriques Nzita Tiago, os independentistas consideram ser chegada a hora de “fazer concessões” aos “inimigos de ontem, adversários de hoje”.
“Com esta nova visão, queremos privilegiar um diálogo dinâmico e racional, garantia de um clima de paz durável”, lê-se no documento, em que se apela a Luanda para iniciar negociações para uma resolução pacífica do conflito.
Nesse sentido, a FLEC considera necessário “abrir uma nova etapa marcada pelo reconhecimento da identidade de Cabinda e a partilha de soberania com Angola, no sentido da soberania plena de gestão local”.
Excluindo a “independência total”, a partir do momento em que Luanda aceita o compromisso político constante do documento, a FLEC propõe que as negociações impliquem o debate de um estatuto administrativo que contempla três denominações: Estado Soberano Associado, Território Autonómico e Estado Federal Autónomo.
Na negociação que propõe, a FLEC defende que, além de representantes da organização e do Estado angolano, deverão estar envolvidos representantes de Portugal, na qualidade de antiga potência colonial, da Igreja Católica, as autoridades tradicionais de Cabinda, da União Africana, da sociedade civil, do Parlamento Europeu e dos países que partilham fronteira com o enclave, como as repúblicas do Congo e Democrática do Congo.
A única reação das autoridades angolanas veio até agora somente do diário estatal Jornal de Angola, que na edição de quarta-feira deu destaque de primeira página ao assunto e hoje dedica-lhe o editorial.
O enclave de Cabinda é palco desde a independência de Angola, em novembro de 1975, de uma luta pela independência, desencadeada ao longo dos anos por diferentes fações cabindas, restando atualmente somente a FLEC de Nzita Tiago como a única que ainda mantinha uma resistência armada residual à administração por parte de Luanda.
Separada de Angola pelo rio Congo, Cabinda possui significativos recursos naturais, em que as reservas petrolíferas representam cerca de metade da produção diária de 1,8 milhões de barris de petróleo angolanas.
(lusa.pt)