A publicação de obra dos investigadores Joseph Hanlon, Jeanette Manjengwa e Teresa Smart, “Zimbabwe Takes Back Its Land”, constitui um duro golpe para quantos, dentro e fora de África, diabolizaram Robert Mugabe por causa do confisco de milhares de hectares de terras a fazendeiros brancos.
Aqueles investigadores afirmam que as reformas do governo de Mugabe, “além de repararem um erro colonial histórico”, não contribuíram para o retrocesso da vida agrícola zimbabueana, tal como vaticinavam vários sectores.
Joseph Hanlon e Jeanette Manjengwa alegam que é injusto condenar “a redistribuição de terras no Zimbabué”, pois a produção agrícola tem aumentado substancialmente ao longo da última década.
Ainda relativamente ao confisco de terras no Zimbabué, muitas outras coisas passaram ao lado de verdadeiras questões às quais muitos sectores em África não deram a devida atenção. A maneira como se processou a reforma agrária podia ter sido evitada se todas as partes, principalmente Reino Unido, cumprissem com as obrigações históricas.
A forma como passou a ser encarada a actuação do governo de Robert Mugabe durante a reforma agrária levou numerosos sectores, sobretudo em África, a esquecerem-se dos compromissos do Reino Unido no âmbitdo Acordo de Lencastar House. Do acordo constava uma moratória de dez anos para a aplicação da reforma agrária queo Reino Unido pretendia gradual, “sob o princípio do vendedor voluntário, comprador voluntário”.
Este princípio chocava contra a estratégia do governo da ZANU-PF que, além de alegar que a realidade mudara substancialmente, afirmava não ser possível fazer uma reforma agrária com base apenas no que eram as exigências britânicas.
De 1989 a 1992 houve um crescente desacordo entre o Zimbabué e o Reino Unido sobre as modalidades de financiamento para a compra de terras, baseada na fórmula “vendedor voluntário, comprador voluntário”.
As diferenças agudizaram-se quando o governo do Zimbábue introduziu a política de aquisição obrigatória de terras a partir de finais dos anos 1990, vista por muitos como ataques à minoria branca e uma simples medida eleitoralista.
Muitos sectores em África que vêem os problemas do continente pelo binóculo da imprensa ocidental apressaram-se a caracterizar a acção de Mugabe como um passo para colocar o Zimbabué no abismo económico e social.
Outro pormenor que é preciso prestar atenção tem a ver com o estado da terra no Zimbabué pouco antes do Acordo de Lancaster House. Nos anos imediatamente antes de governo da minoria dar lugar a um de maioria negra, apesar dos subsídios estatais que recebiam 30 por cento dos agricultores brancos eram insolventes e os outros tantos tinham entrado em falência.
Dados retirados da Internet revelam que cerca de 66 por cento das terras aráveis estavam em estado de pousio no Zimbabué no período que antecedeu a independência.
As investigações de Joseph Hanlon e Jeanette Manjengwa salientam que após a confiscação das terras em 2000 e apesar de alguns novos agricultores africanos terem optado pela agricultura de subsistência um número crescente dedicou-se à agricultura comercial.
Estes dados relativos ao êxito da campanha de Mugabe podem estar a tirar o sono a muitas pessoas que preferiam ver na decisão do governo de Mugabe um ataque à minoria branca que detinha mais de dois terços de terras aráveis no Zimbabué.
Para a História fica mais um facto que deve levar as elites intelectuais africanas a repensarem a forma como encaram determinados processos políticos, económicos e sociais à luz de estereótipos concebidos no Ocidente. É óbvio que se as coisas estivessem a correr mal, a nível do uso das terras confiscadas à minoria branca, não faltavam manchetes para a contínua promoção do afro pessimismo. Esta confirmação da verdade vem atrasa, mas como se costuma dizer antes tarde do que nunca. (jornaldeangola.com)
Faustino Henrique