
Mais de duzentas mil pessoas na província do Cunene precisam com urgência de assistência alimentar nos próximos dias, de acordo com informações apuradas por este jornal.
Os mais carentes são habitantes do Cuanhama, Ombandja, Cuvelai, Namacunde e Cahama, municípios que foram severamente afectados pela estiagem que se registou no último ano agrícola, o que provocou baixa produção dos principais produtos cultivados nesta região do Sul do país.
A situação de algumas destas comunidades poderá mesmo agravar-se caso as autoridades não partam imediatamente para a distribuição de bens de primeira necessidade. Fontes de O PAÍS acreditam que a sobrevivência destes estará dependente da acção urgente do Governo local e do Executivo, havendo mesmo populares que abandonam as suas zonas de origens para procurar comida e água noutras regiões da província do Cunene.
Alguns destes têm-se dirigo, inclusive, à sede de alguns municípios ou comunas à procura de alimentos e água para beber. Esta realidade é vivida por várias habitantes de povoações situadas nos municípios em situção crítica, que preferiram abandonar as suas casas, cubatas e haveres para sobreviverem a esta estiagem que já dura há vários anos.
Outros que ainda têm algo para comer também poderão ver a sua condição agravar-se, a julgar pela falta de chuva e água nos principais rios daquela região, como o Cunene, o Cuvelai e o Caculovar.
Segundo apurámos juntos de entidades da referida província, apenas os camponeses e comunidades que vivem nas margens do rio Cunene têm condições mínimas de sobrevivência e esperança de poderem produzir alguma coisa nos próximos anos. Nas outras, suspeita-se que os próximos meses sejam piores, dado ser improvável que as chuvas elevem o caudal dos rios Caculovar e Cuvelai.
O PAÍS apurou que produções de massango, milho e feijão macunde, em alguns pontos, nem sequer produziram o mínimo, havendo mesmo áreas onde a produção nem sequer atingiu os dez por cento. Isso fez com que muitos recorressem a uma alimentação com base em produtos inapropriados, tais como frutos silvestres.
Face à situação que se vive, a maioria dos camponeses, pastores e outros populares dos municípios mais críticos procuram abastecer-se de água a partir das sondas e chimpacas que ainda possuem alguma reserva. Entidades ligadas à saúde afirmam que essa água é imprópria para consumo, mas por falta de alternativa os populares não têm outra opção.
De acordo com dados a que tivemos acesso, fontes da província garantiram que o maior problema não reside na falta de chuvas, mas assim no aproveitamento inadequado que tem sido dado à água que regularmente inunda várias localidades do Cunene.
Gado em perigo
Sem possibilidade de conseguirem água para os seus animais, muitos dos criadores que não atingiram as margens do rio Cunene começaram a trocar os seus animais por outros produtos, sobretudo alimentos.
Os que atingiram o rio, segundo apurámos, começaram o período de transumância muito mais cedo do que habitualmente para evitarem custos e não correrem o risco de perder o gado todo, apesar da falta de alguns meios como vacinas e outros produtos farmacêuticos para combater algumas doenças que apoquentam os animais.
O PAÍS contactou um alto responsável da Direcção Provincial da Agricultura, mas este não quis prestar qualquer informação sobre o assunto. “Hoje não posso dizer nada, porque tivemos uma situação menos boa aqui relacionada com este mesmo assunto”, explicou o responsável, que solicitou o anonimato. (opais.net)