“O relatório da Fitch Rating reflete o erro do FMI, que já reconheceu o erro, disponibilizou uma equipa técnica para os corrigir, já publicou, com urgência, os novos dados e agradeceu a postura diplomática de Cabo Verde” na chamada de atenção, disse hoje a ministra das Finanças cabo-verdiana, Cristina Duarte.
Numa conferência de imprensa, a governante adiantou que, apesar dos “danos” provocados à economia nacional, a informação disponibilizada pelo FMI, em que se baseou, depois, a Fitch Rating, vai permitir que os investidores e o mercado a absorvam da mesma forma que o fizeram após a divulgação dos números errados.
A este propósito, salientou a ministra cabo-verdiana, há já alguns indicadores macroeconómicos que apontam para uma ligeira tendência da retoma do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em Cabo Verde, que tem baixado significativamente nos últimos anos, sobretudo devido à crise económica internacional.
Em causa está o penúltimo relatório do FMI sobre Cabo Verde, que indicou que o stock da dívida pública do arquipélago se situava nos 96% do Produto Interno Bruto (PIB) e que, após as correções divulgadas na quarta-feira, apontam para 81,2%, abaixo das previsões do Governo (83%).
Este erro, acrescentou Cristina Duarte, “encobriu outro”, relacionado com a dívida interna em relação ao PIB que, em dezembro de 2012 se situava, segundo o Governo, nos 21,3%. O FMI apontou inicialmente para um valor de 26% do PIB e acabou por a rever para 21,2% do PIB, salientou Cristina Duarte.
A ministra, que participou a 20 e 21 deste mês na reunião de Primavera do FMI e do Banco Mundial (BM), salientou que a Fitch Rating teve em conta todos esses dados e frisou que a agência de notação financeira manteve o risco do país e que só o “Outlook” é que passou de estável para negativo.
“Houve, de facto, um «downgrade», mas apenas na perspetiva de longo prazo, passando de BB- para B+, justificado também pela incompreensão da Fitch Rating em relação à opção do Governo em proteger as reservas nacionais, usando-se a moeda estrangeira, em detrimento do escudo cabo-verdiano”, sublinhou.
Por outro lado, Cristina Duarte negou que Cabo Verde venha a ter necessidade de ver implementado um Programa de Ajustamento Estrutural (PAE), lembrando que a sustentabilidade da dívida, negociada previamente com FMI e BM, está “garantida”, situando-se em 81,3% – incluindo o serviço da dívida e as receitas de exportação e orçamentais.
A ministra lembrou que os empréstimos têm uma taxa de juro “extremamente barata” (taxa média de 1,8%), que o prazo médio de pagamento é de sete anos e que a amortização média alcança os 24 anos.
No entanto, Cristina Duarte indicou que o índice de endividamento já está no “phasing out”, o que significa que já atingiu o “pico” – na infraestruturação do país -, pelo que, a partir de agora, a despesa vai começar gradualmente a diminuir, “o que não significa que os projetos reprodutivos sejam parados”.
“Os erros causaram muitos prejuízos, sobretudo ao nosso principal produto de exportação, a credibilidade, que é um dado intangível. Mas, da mesma forma que o mercado absorveu a informação inicial, irá absorver também os novos dados”, concluiu.
(lusa.pt)