
A especulação poderá reduzir mas de forma temporária, uma vez que o estado subsidiou o valor dos imóveis na ordem dos 30 a 40 por cento, o que não é sustentável, na opinião do arquitecto Ilídio Daio.
O técnico afirma que o sector privado tinha “margens de lucro de 100 a 200 por cento por imóvel”, números que poderão baixar, sendo que o investidor daqui para frente poderá reembolsar o valor investido, acrescentado por uma margem de lucro que estará “muito abaixo do absurdo que antes era visto”.
O especialista, também entendido em projectos de habitação social, esclareceu que a qualidade dos apartamentos existentes nas novas centralidades, se fossem comercializados por privados, tinham um valor final triplicado em relação ao preço agora praticado.
“A criação das novas centralidades foi uma medida corajosa de controlar os preços e despertou a atenção das imobiliárias do sector privado. Na classe média e média-baixa há um mercado potencial que pode ser aberto. Pode-se ter outra qualidade em novos projectos urbanos, melhor que as novas centralidades e a custos controlados”, afirma Daio.
Mas, alerta o interlocutor, esse processo tem que ser sustentado financeiramente, viver de si próprio já que o Estado não pode, a médio prazo, subsidiar a construção das novas centralidades.
Outro aspecto apontado pelo arquitecto é que a construção e abertura das novas centralidades poderão criar, num futuro próximo, a modalidade da Habitação Protegida.Em função do rendimento de uma família, até três salários mínimos, eles poderão ter uma residência partindo do princípio de que a sua construção é facilitada com as bonificações e isenções de impostos e com a consequente cedência de terreno por parte do governo e longe das margens de lucro especulativas.
“Creio que, com a identificação de grupos de famílias com um determinado rendimento, até os projectos idênticos às novas centralidades poderão evoluir. Será uma situação onde ganham todos, desde o Estado, os imobiliários e os beneficiários das casas”, assegurou.
O engenheiro civil Jemilson Furtado, ainda falando da influência que as novas centralidades trazem ao mercado imobiliário, aponta que elas surgam de forma positiva porque isso vai permitir uma queda do preço das vendas e aluguer de casas, levando as imobiliárias do sector privado a um outro público-alvo para aumentar as suas hipóteses de arrendar ou vender uma casa.
O inquirido refere ainda que haverá “claramente uma redução nos números que representam o sector, por um lado, e por outro o aumento da procura”.
Para o engenheiro civil, Angola ainda está “longe dos sinais de desenvolvimento uma vez que é imperiosa a descentralização dos serviços, o que vai propiciar alguma mudança na qualidade de vida das pessoas que estão no centro e também nas novas urbanizações”.
QUALIDADE VERSUS PREÇO
Colocando a qualidade de parte, havia necessidade de algum impulso para que pudessem ser sentidas as mudanças de que o sector imobiliário carece. Ilidio Daio pensa, no entanto, “que não houve muita atenção no aspecto fiscalização”. “Os apartamentos têm as condições de habitabilidade condignas mas as linhas técnicas ainda pecam – e as últimas chuvas provaram isso”. “O acompanhamento poderia ser feito de uma forma mais rigorosa” mas, acrescenta Ilídio Daio, faltam outros aspectos a serem concluídos: desde a drenagem ao tratamento de águas residuais.
Jemilson Furtado diz que já é visível alguma falta de qualidade nas vias técnicas mas quando uma drenagem é projectada, já existe a previsão do montante de água que essa deve suportar. “Talvez algo não esteja bem na manutenção. Mesmo sabendo que todo o início de um grande projecto é de certa forma tumultuado – surgindo depois a correcção. Ernesto Gouveia (Novo Jornal)