Sexta-feira, Março 24, 2023
15.5 C
Lisboa
More

    António Fonseca estimula a leitura

    Fotografia: JA
    Fotografia: JA
    A situação do livro em Angola é, hoje, uma das principais preocupações do Executivo, que tem feito de tudo para promover a leitura particularmente entre as crianças, de forma a criar uma sociedade com bases mais sólidas para construir o novo país.
    Hoje, Dia Mundial do Livro, o Jornal de Angola entrevistou o director do Instituto Nacional das Indústrias Culturais, António Fonseca. Ele falou sobre o estado actual do livro em Angola e a realização do Jardim do Livro Infantil.

    Jornal de Angola – Como analisa o estado do livro em Angola?

    António Fonseca – Posso dizer que estamos num período de recuperação. Na década de 80, o país atingiu um nível de leitura muito interessante e teve também uma boa oferta editorial, que estava distribuída um pouco por todo país. Já no início da década de 90, com as transformações do modelo político e económico, a realidade alterou-se, visto que deixou de haver distribuição. Várias actividades ligadas à promoção do livro, que se realizavam na época, desapareceram. No final dos anos 90 chegámos a ter em Angola apenas uma ou duas livrarias a funcionar.

    JA – O que foi feito para mudar este quadro?

    AF – Actualmente existe um processo de recuperação do gosto pelos livros e de incentivo à leitura. Várias actividades estão a ser desenvolvidas, a nível nacional, como o Jardim do Livro Infantil, para se mudar este quadro. Apesar de ainda estarmos limitados nas capitais províncias e em alguns municípios, esperamos criar condições para que a actividade chegue às comunas. Outro projecto em carteira é realizar o Jardim do Livro Infantil, que em Luanda acontece de 27 a 30 de Junho, noutras datas. Vamos estimular projectos do género em todo o país.

    JA – Qual é o resultado dos projectos lançados?

    AF – Hoje temos diversas actividades em marcha. Isto está a gerar uma nova dinâmica em torno do livro e da leitura, já que até mesmo as empresas públicas e privadas têm realizado feiras para estimular a leitura entre os seus funcionários. Com este aumento de oferta, as instituições escolares, os lares e centros infantis, os pais e encarregados de educação têm estado mais próximos dos livros. Portanto esta mudança demonstra que os pais começam a considerar, novamente, a leitura como um elemento importante na educação dos filhos.

    JA – A distribuição dos livros acompanha esta dinâmica?

    AF – No plano da distribuição e do comércio livreiro também podemos constatar um bom resultado e uma maior aproximação entre o autor, o livreiro, os distribuidores e as editoras, apesar de uns serem, ainda, mais referenciados que outros.

    JA – Então já existe a aproximação perfeita do livro ao leitor?

    AF – Ainda falta mais um pouco para que tal aconteça, uma vez que há sempre duas questões quando falamos da aproximação do livro ao leitor. Uma é a da edição, um trabalho que tem registado entraves, devido à selecção do autor a ser publicado. A outra é a do comércio livreiro, que só pode dar frutos caso a editora tenha prestígio ou publique o trabalho de um escritor consagrado.

    JA – Que sector está mais desenvolvido?

    AF – Quanto ao comércio livreiro estamos muito animados. Temos diversos editores de livros com muitos títulos. O mesmo já não se pode dizer quanto à actividade editorial. Existem editores, mais 30 no país, mas, a maioria não exerce a actividade editorial no domínio do livro. Esta é uma área que ainda não está suficientemente atendida, mas fazemos tudo para impulsionar a actividade.

    JA – Quais são as dificuldades da actividade editorial?

    AF – Estamos num modelo económico de mercado e o livro enquanto produto das empresas culturais é um bem que assume carácter de mercadoria. Temos algumas empresas que investem no sector, editoras de referência que pela sua dinâmica de trabalho e empenho têm conseguido alcançar alguns sucesso, apesar de trabalharem num mercado pouco fechado, mas com um forte potencial de negócio e rendimento.

    JA – A literatura é importante na recuperação e afirmação da identidade?

    AF – Absolutamente, por isso mesmo cada vez mais os nossos autores devem ser livres na afirmação da identidade nacional nesta época de globalização, já que estes são importantes no processo de educação da nova geração. Temos também registado, com agrado, a tendência para recuperar alguns textos tradicionais. Hoje são muitos os autores a trabalharem em torno da questão da transcrição e transmissão da tradição da história e da cultura angolana aos jovens.

    JA – Já há planos para tornar as feiras e jardins do livro mais abrangentes?

    AF – As feiras do livro são uma oportunidade ímpar para as pessoas e as instituições adquirirem livros, a um bom preço. Como são realizadas em espaços abertos é uma oportunidade também para as pessoas fluírem com tranquilidade num único recinto, onde podem apreciar o prazer da literatura. Hoje, as feiras podem, igualmente, ser vistas como espaços de lazer e como uma forma de ajudar a suprir as dificuldades e lacunas que o sistema de livrarias enfrenta.

    JA – Como analisa as feiras e outras actividades na aproximação entre os livros e os leitores?

    AF – As feiras têm sido positivas. O nosso principal indicador é o número de pessoas presente e de livros disponíveis, assim como os vendidos. A adesão do público serve também de indicador para o género de livros mais procurados. O facto de recebermos anualmente um público diversificado leva-nos a considerar que a está a dar atenção aos livros. Outro motivo de alegria é o facto de hoje, por ocasião de algumas datas festivas, as pessoas voltaram a oferecer livros, um hábito que deve ser incentivado porque o livro é um bem nobre.

    JA – É possível explorar mais este renascer do interesse do público pelos livros?

    AF – Claro que sim. O Instituto Nacional das Indústrias Culturais tem pretensões de estabelecer parcerias com supermercados para a venda de livros, assim como tem mantido contactos com as empresas responsáveis por grandes projectos habitacionais, para incluírem um espaço de literatura. É uma negociação difícil, principalmente porque não temos distribuidoras, no sentido verdadeiro do termo. O que temos são entidades constituídas como distribuidoras, mas distribuem, exclusivamente, os seus próprios produtos.

    JA – Qual é a importância do Dia Mundial do Livro?

    AF – O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, uma data de referência, é um motivo de reflexão em torno da questão do livro e da leitura, um modo de exortar a escola, a família e a sociedade a promoverem a leitura, ferramenta essencial no desenvolvimento e criação dos valores morais.

    (jornaldeangola.com)

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Angola e Brasil preparam Comissão Mista para reforço da cooperação

    Angola e Brasil realizam, a 5 de Abril deste ano, em Brasília, a próxima sessão da Comissão Mista, para...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema