Numa entrevista conjunta à agência Lusa, RTP África e Deutsche Welle, o primeiro-ministro guineense deposto há um ano lembrou que, logo após o golpe, deu início a uma série de contactos internacionais para explicar a situação na Guiné-Bissau.
“Enquanto presidente do partido legitimamente eleito, enquanto primeiro-ministro legítimo eleito na Guiné-Bissau, não fiquei de braços cruzados. Estive na África do Sul, falei com a União Africana (UA) e com o Conselho de Segurança da ONU para explicar que não podia ficar indiferente com o caminho de desgovernação seguido na Guiné-Bissau”, afirmou.
“Enquanto patriotas, corremos o mundo e não nos cansámos até que a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, que assumiu o controlo da situação após o golpe) fosse convencida de que tem de ser feita uma discussão mais inclusiva, sem ninguém estar de fora, com todos os parceiros que a Guiné-Bissau tem – UA, UE (União Europeia) – num processo liderado pela ONU”, acrescentou.
Para Gomes Júnior, após várias reuniões entre a comunidade internacional, a CEDEAO “chegou à conclusão que deve dialogar”.
“Num Estado democrático, não havendo diálogo, cometem-se asneiras. São os guineenses que têm de resolver os nossos problemas, não é a CEDEAO. A CEDEAO pode ajudar, mas nós é que temos de os resolver”, frisou, lamentando que só agora a organização oeste-africana tenha cedido.
Dando como “fundamental” a conclusão da reforma do setor da Defesa e Segurança, Gomes Júnior apelou à comunidade internacional para apoiar o processo, alegando que não se pode pensar em paz e estabilidade enquanto não se cumprir a meta.
“Quando um país não tem paz nem estabilidade, correndo permanentemente o risco de novos sobressaltos, com um total atropelo ao Estado de Direito, não se pode continuar”, argumentou, recorrendo ao alerta feito pelo novo representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta.
“É a última oportunidade para a Guiné-Bissau. A comunidade internacional tem outras preocupações”, disse Gomes Júnior, parafraseando o ex-presidente timorense.
Gomes Júnior defendeu, por outro lado, que a proposta de um processo de transição consensualizado entre a ONU, UE, UA, CEDEAO e CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) – elaboração do roteiro da própria transição, assinatura de um pacto de regime e a criação de um Governo inclusivo até à realização de eleições gerais – tem de contar com três questões prévias.
“Além do roteiro de que se fala para a transição terminar até ao fim de 2013, há questões prévias que têm de ser analisadas. O povo da Guiné-Bissau não se pode manifestar livremente. Os jornalistas não podem exercer a sua profissão livremente. Falta ainda o consenso de que as Forças Armadas devem ser apolíticas, tirar a boca da política e deixá-la para os quadros e políticos guineenses”, concluiu.
(lusa.pt)