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    Waldemar Bastos na World Music: “Dei o que tinha e o que não tinha”

    Waldemar Bastos, artista angolano de nível internacional. Fotos de Paulino Damião
    Waldemar Bastos, artista angolano de nível internacional.
    Fotos de Paulino Damião

    Waldemar Bastos, homem de M’banza Congo que namorou Angola em “Angola Minha Namorada”, a sua “Pretaluz”, que juntos pitaram a “Pitanga Madura” e viram o “Renascence”, a paz harmoniosamente encontrada nos “Clássicos da Minha Alma”.

    Esta voz sólida da música angolana, é de um cidadão crente que  diz que a maneira mais actual de ser moderno é não perdermos a noção da realidade das nossas peculiaridades, ou como afirma o próprio: “a beleza está em não termos vergonha do que é nosso, por ser aí onde reside a essência”.

    É esta fórmula e estado que só as almas densas de “artisticidade” e conscientes da missão por ela se evolam até ao sublime, e como exemplo traz com orgulho esbanjado os nomes de Cesária Évora e Salif Keita, duas vozes africanas que ultrapassaram a barreira do invisível tendo apenas como ferramenta, a música e a essência, feitas com uma simplicidade sublime, coisas que fazem falta e diferença neste período de turbilhão, de exagerados arranjos e imitações forçadas.

    A sua música “Sofrimento” do CD Pretaluz, conhecido internacionalmente como Blacklight, está na fase final do International Songwriting Competition 2013 na categoria de world music, um evento anual de músicos e letristas cuja missão é dar oportunidade a novos ou reconhecidos talentos num contexto internacional e de profissionais de música, trazendo variedades como: adult contemporary, americana blues children’s music, comedy/novelty, country, dance/electronic, folk/singer-songwriter gospel/Christian, music instrumental jazz, latin, R & B e Hip-hop e dentre outros. E na categoria de Waldemar Bastos concorrem artistas da Tanzânia, Israel, Bélgica, EUA, Austrália e outros.

    Waldemar Bastos1Waldemar Bastos – Sou um homem que nasceu neste continente, precisamente em M’banza Congo, e que ama Angola e a Humanidade e que através da música tenta dar o seu maior e melhor contributo para a fraternidade universal, alicerçando-se na bondade, na beleza da ética e da estética, portanto, como digo, levo as nossas flores, odores, os nossos cheiros as nossas rosas de porcelana e pôr também no jardim universal. É o que eu tenho feito e o mundo tem-me reconhecido, o que dá uma grande alegria, porque quando eu faço é em nome de um colectivo que é o povo angolano.

    Analtino Santos – O mundo tem reconhecido a sua obra. Angola tem feito o mesmo?

    WB – É bíblico que por vezes é necessário caminharmos noutras dimensões para atingirmos um reconhecimento. No entanto, sinto a nível da população e da imprensa um destaque do que está a acontecer.

    AS – Primeiramente o prémio pelo Liberation de França e agora o International Songwritig Competition, ambos na categoria de World Music…

    WB– Sim, no Songwriting inicialmente eram 20 mil artistas e agora anunciou os finalistas e eu estou entre os 16. Também foi anunciado que estive 7 dias no Top das rádios da Austrália, uma parte do mundo bem distante. Depois da França, Alemanha e Estados Unidos, há um reconhecimento que já começa a ser publicado. Agora é preciso perceber que algo tenho feito e que tenho dado o meu melhor para elevar a boa imagem desta terra.

    AS – Insisto no Liberation: Lembro-me ter afirmado que tinha um significado especial…

    WB – Sem dúvidas, olha que praticamente a world music teve o seu início em França e que é um motor da cultura global e a estética é rigorosa ai, mas não posso esquecer que foi os Estados Unidos quando em 1996 e depois em 1998 o New York Times e outros jornais reconheceram o meu valor.

    AS – Os últimos reconhecimentos estão à volta de Classic of my Soul. Quais foram as motivações e os factores para gravar com a Orquestra Sinfónica de Londres?

    WB – Senti-me capaz, apesar de graves dificuldades financeiras. Porque fazer um disco destes é um envolvimento muito grande, onde dei o que tinha e o que não tinha, que é trabalhar com uma Orquestra sinfónica. Mas eu tinha a vontade de pôr a música de Angola no mais alto patamar e sentia-me capaz. Estava convicto em pôr a nossa música a nível global, e sem falsas modéstias estes clássicos estão a circular a nível global. É verdade que nós demos o nosso contributo musical nas Américas, no Brasil, Chile, Belize e outros pontos, devemos continuar a dar o contributo para realimentar na estética, na harmonia e na concórdia.

    AS – Nascido em M’Banza Congo, filho de mãe do Lobito e pai de Zavula, M’banza Congo marca fortemente a história angolana e africana, daí a intenção em torná-la património Mundial da Humanidade…

    WB– A minha preocupação como filho da terra é de dar o meu melhor para poder ajudar humildemente e dentro das minhas possibilidades, a terra onde nasci.

    Dar o meu melhor para este reconhecimento universal, porque nunca esqueçamos que M’Banza Congo aqui no continente e no mundo, é tida como um berço da cultura e da música africana. Eu digo isto por provas e reconhecimento, quando estou fora e digo que sou desta terra.

    Portanto, tudo farei para actuar como porta-voz para que atinjamos este feito.

    AS – Outra grande devoção sua é o Santuário da Muxima…

    WB– Sou cristão e acredito verdadeiramente em Deus e a minha música está assente em valores humanos e espirituais que se consubstancia na beleza, e a beleza é o caminho que nos leva para Deus, portanto a Muxima é de facto a nossa Padroeira. Poderá ser uma das nossas, porque  também já temos a Nossa Senhora das Acácias no Uíge, até porque poderão nascer várias. Mas eu tenho a minha devoção à Muxima, que me tem ajudado, a mim e, à minha família.

    AS – Como está a digressão “Classic of my Soul”?

    WB – Fui convidado para a gala da finalíssima do Songwriting nos Estados Unidos, em Outubro próximo. Actuarei com a Orquestra Sinfónica de Gulberkein, uma das maiores da Europa, o que será um marco em Portugal, que também é uma plataforma para a nossa música.

    AS – Há um grupo de fãs que pretende homenageá-lo.  Para quando a reedição em Angola dos álbuns lançados no exterior?

    Em breve, atenderei o desejo dos meus queridos fãs.  Foi com surpresa que encarei este gesto. Penso fazer uma colectânea. Os meus fãs acompanham o meu percurso e feitos no exterior e estão preocupados porque raramente actuo em Angola. Nesta homenagem serei acompanhado pela minha banda, que virá propositadamente ao país e depois queremos fazer uma festa de quintal à moda antiga…

    Discografia

    “Estamos Juntos” (EMI Records Ltd.,

    1983); “Angola Minha Namorada” (EMI

    Portugal, 1989); “Pitanga Madura”

    (EMI Portugal, 1992); “Pretaluz” [blacklight]

    (Luaka Bop, 1997); “Renascence”

    (World Connection, 2004); “Clássicos da

    Minha Alma” (Classics of my soul).

    Analtino Santos (Cultura-jornal angolano de artes e letras)

     

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