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    A confissão de fracasso

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    O nome de Ashoka Mody diz pouco ao comum dos mortais, mas as suas decisões e imposições refletiram-se na vida de milhões de europeus, prejudicando-os.

    Ashoka Mody não concorreu a eleições, não foi eleito por ninguém, mas decidiu diretamente sobre a vida dos irlandeses e, indiretamente, sobre o presente e futuro de gregos, cipriotas, portugueses, italianos, espanhóis. Foi o representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) dentro da troika que governa a República da Irlanda e agora que saiu do cargo, e até do próprio FMI, fez uma confissão assombrosa: a política económica aplicada contra a crise estava errada, fracassou e não funciona.
    Há quem diga que os mea culpa ficam bem a quem os profere, demonstram nobreza de sentimentos e de caráter. Talvez o mais importante não seja discorrer sobre isso, pois dificilmente os milhões de pessoas que perderam os empregos ou sofreram cortes nos salários e pensões e viram desaparecer direitos humanos elementares enquanto o Sr. Ashoka Mody esteve em funções não têm a mesma opinião. Sendo, aliás, o representante do FMI, por inerência, um economista encartado por muitos graus académicos custa a acreditar que ele não adivinhasse, desde o início, o destino que ia ter uma política como a que aplicou.
    Arrependeu-se, mas logo outros lhe pegaram na batuta. A confissão podea, é certo, ter uma utilidade. Forçar os principais mentores e executores da política que tem vindo a ser seguida supostamente para combater a crise na Europa a refletir sobre o assunto e a estudar uma alternativa porque todos os sinais de crise continuam a agravar-se. E também as dívidas aumentam, negando todas as receitas usadas para as reduzir.
    Acontece que os responsáveis fizeram orelhas moucas ao Ashoka Mody. Reunidos na Irlanda, os ministros das Finanças dos países da Zona Euro e da União Europeia decidiram que austeridade deve ser continuada, e agravada, limitando-se a estender prazos de pagamento das dívidas por mais alguns anos, o que na situação em que os países periféricos europeus se encontram tem o mesmo efeito que usar aspirinas para curar cancros terminais.
    No caso de Portugal, dois dias depois da declaração do ex-chefe do FMI para a Irlanda, país que o governo de Lisboa diz seguir como exemplo, o ministro das Finanças escreveu uma carta à troika a pedir mais austeridade. E recomendou que ela se exerça especialmente sobre subsídios de doença e de desemprego – um mal que bate todos os recordes no país.
    Muitos que lêem estas linhas têm dificuldade em acreditar que assim seja, mas podem crer que é a realidade nua e crua. Está escrito e os senhores da troika já desembarcaram de novo em Lisboa para tratar do assunto. (jornaldeangola.com)

    José Goulão

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