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    Guiné-Bissau Narco-Estado falhado

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    Infelizmente para muitos de nós, a situação político-militar na Guiné-Bissau atingiu um ponto tal que o Estado como tal já começa a deixar de existir em muitos locais e assistimos preocupados o crescimento do tráfico de drogas e não só, o que leva o país a ser considerado em vários estudos como um Estado falhado e em outros mais rigorosos e realistas como um narco-Estado.

    Estado falhado porque as instituições do Estado encontram-se na generalidade falidas e numa inércia tal que não se consegue garantir os serviços mínimos de assistência à população guineense. Noutra vertente, a Guiné-Bissau é referenciada já há algum tempo e com maior relevância desde o golpe de Estado militar de 12 de Abril do ano passado como um narco-Estado, ou seja, um Estado aonde as instituições políticas encontram-se sob influência directa do tráfico de drogas e os seus dirigentes políticos e forças militares ou paramilitares desempenham simultaneamente funções de Estado e de ligação directa com as redes de tráfico internacional de drogas. No caso particular da Guiné-Bissau, as coisas tornaram-se mais graves porque já se apontam ligações à guerrilha rebelde das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC), com quem os militares guineenses terão feito vários negócios de droga.
    Esta triste realidade foi confirmada na semana passada com a detenção do almirante e antigo chefe da Armada guineense José Américo Bubo na Tchuto, preso em águas internacionais em flagrante delito quando negociava com supostos traficantes que eram agentes disfarçados da Agência de Luta anti Drogas dos Estados Unidos da América (DEA). Surgiu em Bissau um coro de protestos contra esta detenção mas os mesmos não possuem fundamentos legais, já que, segundo o Direito do Mar, o alto mar é o conjunto das zonas marítimas que não se encontram sob jurisdição de nenhum Estado e o seu limite interior corresponde ao limite exterior da zona económica exclusiva, que é estabelecido no máximo 200 milhas náuticas da costa (existe porém uma possibilidade de ampliação em mais 150 milhas náuticas sobre a extensão da Plataforma Continental).
    Outra figura de peso no aparelho militar guineense, Ibraima Papa Camará, chefe do Estado Maior da Força Aérea da Guiné-Bissau, também está indiciada pelo Tesouro norte-americano como sendo um narcotraficante, mas até ao momento o mesmo encontra-se em liberdade. Mas, os nomes das altas figuras deste agora também rotulado de narco-Estado supostamente envolvidas no tráfico internacional de drogas não se ficam por estes dois militares.
    Segundo notícias avançadas pela imprensa internacional no último final de semana e que abrem hoje as manchetes dos jornais africanos e não só, o presidente do governo golpista militar, o dissidente do PAIGC Manuel Sefiro Nahamadjo, e o seu primeiro-ministro, Rui Duarte de Barros, também estarão envolvidos nos esquemas e joguetes de tráfico de droga. De acordo com o auto de acusação do almirante Bubo na Tchuto já presente a um tribunal em Manhattan, Nova Iorque, onde o procurador Preet Bharara já o mencionou em alegações de narcoterrorismo, soube-se também das ligações de uma alta patente do exército guineense que iria solicitar os préstimos do presidente interino e do primeiro-ministro para a resolução de assuntos da droga.
    Segundo o mesmo documento, o grupo pretendia transportar 4 mil quilos de cocaína colombiana para a Guiné-Bissau escondidos num carregamento de uniformes militares. Posteriormente seria enviado para a Colômbia um carregamento de armas incluindo mísseis terra-ar que seriam utilizados pelos rebeldes colombianos das FARC contra as forças americanas de luta contra a droga que se encontram naquele país sul-americano. Ainda segundo a mesma fonte, em troca, altas entidades do governo guineense (presidente e primeiro-ministro) receberiam 13 por cento da cocaína proveniente da Colômbia. Para além destas informações, os agentes infiltrados da DEA colheram outras que permitiram na operação conjunta com a Interpol deter na Colômbia dois cidadãos colombianos suspeitos de narcotráfico, Gustavo Perez-Garcia e Rafael António Gravito-Garcia.
    Esta detenção do almirante José Américo Bubo na Tchuto com vários cúmplices seus e outros elementos a si ligados e até mesmo de outras nacionalidades é um aviso muito claro para os outros militares golpistas em Bissau, que ainda insistem em fazer sofrer os seus cidadãos privando-os dos seus mais básicos direitos como por exemplo água, assistência medico-medicamentosa e claro a democracia que já há muito conquistaram sem falar da independência que ganharam a 24 de Setembro de 1973, que agora parecem ter perdido em troca de uma dependência do trafico de drogas e de uma ditadura militar que legitima-se no poder graças aos apoios que alguns países vizinhos da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) lhes fornecem. Porém, estas ajudas parecem agora não fazer efeito nenhum, já que as reais fontes de receitas que sustentam a arrogância dos generais golpistas começam a ser reveladas e os falsos amigos, muitos deles motivados por revanchismos doentios e que mergulharam a Guiné-Bissau e o seu nobre povo no caos de hoje, fugirão aos seus aliados já que não quererão ter os seus nomes envolvidos em polémicas desnecessárias. (jornaldeangola.com)

    António Luvualu de Carvalho | *

    *  Docente Universitário

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