Foto: D.R
José Ramos-Horta, que se encontra na Cidade da Praia, em Cabo Verde, para uma visita de menos de 48 horas para debater a questão da Guiné-Bissau, não adiantou nomes, destacando unicamente que alguns membros do atual Governo de transição guineense foram “empurrados” pela comunidade internacional para os cargos que ocupam após o golpe de Estado de abril de 2012.
“Simpatizo com um grupo de políticos guineenses que foram chamados, alguns deles empurrados, para participarem num Governo de Transição. Há alguns no Governo que estão a fazer o melhor que podem e sofrem pressões de todo o lado, mesmo dos militares e até da comunidade internacional”, afirmou o ex-presidente de Timor-Leste.
Lembrando que algumas organizações, como a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Europeia (EU) aplicaram sanções e cortaram os apoios financeiros à Guiné-Bissau – “nem há dinheiro para o Orçamento do Estado” -, Ramos-Horta referiu que o executivo de Rui Barros está “descapitalizado”.
“O Governo está descapitalizado, não tem dinheiro para pagar aos funcionários, para pagar a importação de medicamentos ou a merenda escolar. É por isso que simpatizo com alguns, que tentam fazer o melhor pelo seu país”, afirmou, admitindo, porém, estar “triste e preocupado” pelo deteriorar da situação.
“É com muita tristeza e preocupação que vemos a situação muito deteriorada. Tenho muita compreensão e simpatia por alguns governantes, porque não foram eles que o fizeram o golpe de Estado (de 12 de abril de 2012), foram os militares. Devemos apoiá-los e nunca marginalizá-los e muito menos diabolizá-los”, defendeu.
O representante especial da ONU para a Guiné-Bissau recusou também a ideia de que os membros do Governo são “fantoches” dos militares, refutando também a ideia de que são os militares que governam o país.
Ramos-Horta reiterou a ideia já avançada recentemente à agência Lusa em Bissau, lembrando que o Estado guineense pode desaparecer.
“Quando há golpes sucessivos e instabilidade constante, quando o Estado não faz o que deve fazer, como providenciar segurança e tranquilidade, atender às necessidades básicas da sociedade – educação e saúde – e é minado por crime organizado, deixa de ser um Estado na conceção que conhecemos”, afirmou.
(lusa.pt)