( LUSA) A família de D. Boaventura, herói de Timor-Leste que liderou uma revolta contra os portugueses em 1912, vai pedir a Portugal informações sobre o local onde o rei de Manufahi foi enterrado.
“Até à presente data desconhecemos a sua campa. Ficamos tristes por não saber o paradeiro da sua campa”, afirmou à agência Lusa João Noronha, sobrinho neto de Boaventura da Costa Sottomayor.
Timor-Leste assinala na quarta-feira em Same, no distrito de Manufahi, a cerca de 100 quilómetros a sul de Díli, os 100 anos da revolta e os 37 anos de proclamação unilateral da independência.
A revolta de Manufahi teve início no Natal de 1911, depois da morte do comandante militar de Same, o tenente português Luiz Álvares da Silva, a mando do rei de Manufahi, Boaventura da Costa Sottomayor.
“Foi desterrado, condenado pelo tribunal militar. Nós precisamos de uma notícia do Governo português a dizer onde foi enterrado. Nós não sabemos.”, salientou João Noronha.
O destino dado a D. Boaventura depois de se ter entregado às forças portuguesas a 26 de outubro de 1912 continua uma incógnita para a família, enquanto alguns autores timorenses apontam diferentes possibilidades.
No livro “Pulau Timor”, do autor timorense António Vicente, lê-se que, após D. Boaventura se entregar às forças portuguesas, foi preso e levado para Díli.
Segundo o livro, o liurai terá depois seguido para a antiga prisão de Aipelo e daí para Batugadé, onde foi entregue a homens do Soe, em Timor Ocidental, antigo Timor holandês.
O autor refere que D. Boaventura se terá casado e morrido em Soe, estando enterrado a 15 quilómetros daquela localidade.
No livro “Guerra de Manufahi”, do ex-bispo timorense Ximenes Belo, editado este ano pela diocese de Baucau, é referido que se desconhece o destino dado a D. Boaventura.
“Também se desconhece o dia da morte e do local onde foi enterrado. Alguns timorenses, entre os quais um antigo responsável distrital de Baucau, Abel Belo, contam que o seu corpo foi enterrado à entrada do cemitério de Santa Cruz, em Díli”, refere o livro de Ximenes Belo.
Para homenagear o herói timorense, o Governo de Timor-Leste mandou fazer uma estátua com a sua imagem que será inaugurada na quarta-feira em Same, dia em que D. Boaventura será também condecorado pelas autoridades a título póstumo.
“Nós sentimos muito orgulho por este momento. Não somos só nós que ficamos orgulhosos. É um filho da terra e é o primeiro herói de Timor”, afirmou João Noronha.
Segundo o sobrinho neto do rei de Manufahi, a ideologia de D. Boaventura era idêntica à de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.
“O primeiro rei de Portugal, não quis ficar sob domínio do rei de Castela para ter a independência de Portugal. O D. Boaventura fez o mesmo”, afirmou.
Para o neto de D. Boaventura, Marito Boaventura, é um grande orgulho que o avô passe a ser “considerado como um herói nacional, porque durante muito tempo foi considerado um rebelde e um traidor”. (lusa.pt)