“Não venho em defesa de ninguém, mas convenhamos que em maré de falsidades, fraudes, falsificações e actos quejandos de pouca moral e nenhum decoro, o caso de William Tonet nem sequer é dos mais sérios e escabrosos.
Na minha maneira de ver, não devia ser tratado com tanto rigor apenas por ele ser uma figura mediática, sabe-se lá o que teve que fazer para conseguir atingir essa notoriedade. Na situação de ludíbrio em que ele foi surpreendido, estava também um bom punhado de muitos outros falsos advogados que vinham enganando meio mundo e não apenas os povos dos mabululos. WT tem razão ao reclamar que o rigor com que foi analisado o seu caso não combinava com o princípio de imparcialidade, tanto mais que a Universidade americana de onde ele foi buscar o seu certificado pode até existir e ser idónea!
De qualquer maneira não lhe ficou bem o aproveitamento oportunista do estado de organização incipiente da Ordem dos Advogados antes da assunção do novo Bastonário.
A imparcialidade que invocou, estava seriamente comprometida com a ilegalidade e num aforismo duvidoso mas de indiscutível popularidade – “haja moral ou comem todos”. A sua aparente democraticidade propõe uma falácia que induz ao erro ou que leva inexoravelmente ao pecado no caso dos homens religiosos.
Deste modo, o apelo de WT à imparcialidade no seu julgamento, pode ter repercussões negativas e penso que ele devia eximir-se de o fazer por razões cívicas e até patrióticas. No dia em que a imparcialidade de facto imperar rigorosamente, vai ser um ver se te avias, quero dizer, a ponte molhada vai cair, (já caiu para ser mais preciso, depois da última chuvada) e com ela o risco de perdermos um pouco da nossa humanidade.
Este é um dos meus maiores temores. A imparcialidade assim entendida seria perigosa e poderia implicar na perda de direitos humanos, agora que no tratamento dos conflitos locais se observam de forma suspeita. De um lado estão os rebeldes bonzinhos e do outro os resistentes assassinos que devem ser eliminados. A imparcialidade dos Estados Unidos da América depois do golpe militar na Guiné-Bissau e após a condenação unânime de todos os Organismos Internacionais, deixou toda a gente boquiaberta. É claro que WT não tem nada a ver com isso, mas são evidentes as ameaças que advêm de uma aplicação pouco criteriosa desse princípio e dos danos que podem ocorrer do seu abuso. De pé para a mão ficaríamos desprovidos dos “quadros” que preenchem alguns lugares em certas organizações e instituições nacionais, cujos diplomas não foram reconhecidos. Desse perigo ou doutro semelhante teria observado o próprio Juiz Presidente do Tribunal de Contas quando alertou os responsáveis para a necessidade de procederem a uma análise cuidada dos processos de admissão dos funcionários públicos. Salvé digníssimo pela sua douta advertência! Imagino, com algum optimismo, que virá a encontrar nas Ordens Profissionais existentes no país, excelentes aliados. Haja esperança, já que estamos no Ano da Fé, aberto pelo Papa Bento XVI.
Esta minha visão não decorre apenas do meu pendor para a literatura fantástica, nesse âmbito a nossa própria União dos Escritores Angolanos até que melhorou os critérios de admissão dos futuros membros, tendo em vista as suas responsabilidades na Leitura. Não somos uma Ordem, nem sequer uma Câmara, mas também não somos nenhuma organização libertária. À toa.”
Por Arnaldo Santos
Fonte: Jornal de Angola
