O Banco Valor fez a escritura de constituição em Fevereiro, mas só nasceu a 1 de Julho de 2011. No final do ano passado, com apenas seis meses de actividade, o banco já tinha 43 colaboradores, com uma idade média de 34 anos. No seu primeiro relatório e contas (relativo a 2011), o banco assume que a prioridade, nesta fase inicial, foi o investimento na tecnologia; na qualificação dos recursos humanos (fizeram-se oito acções de formação, das quais cinco em parceria com o Instituto de Formação Bancária); na angariação e fidelização de clientes estratégicos e na oferta de produtos e serviços diferenciados.
Diferenciação parece ser aliás a palavra-chave do banco que, segundo se pode ler no documento, aposta no “serviço de banca de relação, focado na banca de investimento, no financiamento ao desenvolvimento económico e na gestão do património”. Em exclusivo para a EXAME o presidente Rui Miguêns de Oliveira explica melhor esse posicionamento. “Somos um banco diferente, com capitais 100% angolanos, cujo foco está nas empresas de média/grande dimensão e nos particulares de alto rendimento. Nós não pretendemos ser líderes de mercado. Queremos ser os líderes em inovação. Por isso, investimos em plataformas tecnológicas modernas, na prestação de um serviço de qualidade e na inovação de produto”.
Foco nos clientes empresariais
Rui Miguêns falou com especial orgulho de dois exemplos. Na tecnologia, apontou o pioneirismo da solução de mobile banking, compatível para os sistemas operativos Apple e Android e que permite pagamentos móveis. “As plataformas que usamos são acessíveis em três línguas: português, inglês e mandarim”, acrescenta.
No que diz respeito ao produto, destaca a Mix Valor. “É o primeiro produto híbrido de aplicação e de crédito. Assim que o cliente abre a conta, criamos automaticamente uma linha de crédito”, esclarece. Tratando-se de um banco especializado (cujo foco é a banca corporativa e de investimento) que aposta na tecnologia, depreende-se que a abertura de agências não seja uma prioridade (hoje há apenas duas: no Belas Business Park de Talatona e em Luanda). “Já trabalhamos com todo o país. Não precisamos de estar fisicamente em todo o lado”, justifica.
As declarações do presidente foram feitas à margem de outra iniciativa inédita: a apresentação à imprensa do Outlook Valor, um boletim produzido pelo banco que faz a avaliação da economia mundial e nacional e dos principais indicadores do sistema financeiro.
O ritual, que se pretende mensal, inicia-se com um pequeno-almoço, onde o banco procura antecipar qual será a taxa indicativa do Banco Nacional de Angola (BNA) — a partir da qual se geram as taxas de juros bancárias — que será fixada durante a reunião do Comité de Política Monetária. O Outlook Valor, distribuído gratuitamente por via electrónica aos clientes, investidores institucionais e imprensa, expressa a opinião do banco. Na primeira iniciativa, chamada “Pequeno-Almoço com Valor”, a prelecção inicial foi animada por Eduardo Velho, director da banca de investimento.
Mas, no futuro, a ideia é eleger um tema do mês (não necessariamente ligado à banca) e convidar um orador especializado. Eduardo Velho começou por traçar uma panorâmica da conjuntura internacional, um tema importante “devido ao peso elevado das importações e ao impacto na evolução do preço do petróleo”, justifica. No que diz respeito às commodities, a tendência tem sido a de queda. O petróleo foi excepção durante algum tempo, mantendo-se em alta até Março, mas caindo desde então (dos 120 dólares, em Abril, passou para 95, em Junho). “Esta descida não é preocupante porque o Executivo foi prudente e calculou o Orçamento Geral do Estado (OGE) com o preço de referência do crude a 73 dólares”, refere.
Banco Valor estima PIB de 7,9% em 2012
No que diz respeito aos principais blocos económicos, o responsável do Banco Valor alerta que o montante do resgate necessário para a banca espanhola (200 mil milhões de dólares, segundo as estimativas recentes) quase iguala o do fundo europeu (230 mil milhões). Nos Estados Unidos, o alarme vai para a descida da taxa de criação de emprego por dois meses consecutivos e a proximidade das eleições presidenciais e da nova ronda de discussões sobre o tecto da dívida (algo que no ano passado durou três meses).
Na China, o assunto quente é a desaceleração suave devido, entre outras causas, ao menor crescimento das exportações. Ainda assim, conclui Eduardo Velho, “o cenário internacional está bem menos pessimista do que estava no início do ano”.
Para Angola, o Banco Valor previu um crescimento do PIB de 9,9% para este ano, um valor abaixo dos 12,8% previsto no OGE (valor que o Governo já actualizou para a faixa dos 8% a 10%), mas acima das últimas projecções internacionais (veja relatórios do Banco Mundial, EIU e FMI nesta edição) que rondam os 8%.
Questionado pela EXAME sobre as causas desse optimismo, Rui Miguêns apontou como uma das razões o impacto positivo para a economia da bonificação de juros celebrada ao abrigo do programa Angola (veja EXAME n.º 28). Onde há unanimidade nas previsões é no comportamento da taxa da inflação que deverá terminar o ano nos 10% previstos pelo Executivo. “A inflação média apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor, em Luanda, nos meses de Abril e Maio, ficou abaixo do seu padrão sazonal.
Esperamos um aumento da inflação em Junho em relação ao mês de Maio, mas com uma redução na variação acumulada a 12 meses”, disse o presidente do banco. Eduardo Velho demonstrou igual optimismo. “Além de causas internas ligadas à actuação rigorosa do BNA e à estabilidade cambial, existe uma elevada correlação entre a queda das commodities nos mercados internacionais e a taxa de inflação em Angola”, justificou, acrescentando que a subida das reservas internacionais é outro indicador positivo para a economia angolana.
A taxa básica do BNA manteve-se. Mas a taxa Luibor e a da inflação revelam tendência de queda
Por todas estas razões, os especialistas do Banco Valor concluíram que haveria espaço para o BNA reduzir a taxa de juro básica de 10,25% para 10%. Só que não foi esse o entendimento do Comité de Política Monetária do BNA que manteve a taxa nos 10,25%. Um outro boletim do banco chamado MacroValor, publicado nos dias seguintes à decisão, chama à atenção que a taxa interbancária Luibor mantém uma trajectória de queda (para o prazo de maturidade de 12 meses está nos 10,77%). Igual tendência de descida gradual é visível na taxa de inflação (foi de apenas 0,65%, em Maio, e de 10,51%, para os últimos 12 meses).
No que se refere ao PIB e, em declarações exclusivas à EXAME, Eduardo Velho confessa que o banco foi forçado a rever as estimativas em baixa após consulta ao desempenho fiscal do primeiro trimestre deste ano que revela um nível de receitas (e despesas) abaixo do esperado. “Os nossos exercícios econométricos sugerem uma revisão do PIB para baixo, para um intervalo entre 7,5% e 8,3%, com mediana central do nosso cenário em 7,9%.” De mais optimista a mais pessimista, portanto.
Banco valor
Primeiro balanço após seis meses de actividade
Data da fundação: 2011 (17 de Fevereiro, escritura; 1 de Julho, início da actividade).
Accionistas: Rui Miguêns de Oliveira, Jorge Henrique Flora Leitão, Hélder da Silva Milagre, Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, Marcos Guilherme Wolf Carreira, Bartolomeu Dias Domingos, José Manuel da Graça Martins, David Gomes Percheiro, Maria do Carmo Bastos Corte Real Bernardo, João Maria Teixeira Fortes, Nélson da Piedade Dias dos Santos.
Conselho de Administração: Rui Miguêns de Oliveira (presidente); Sérgio Sousa e Júlio Correia (administradores).
Activo Total: 25,183 milhões de dólares
Depósitos: 4,8 milhões de dólares
Resultados Líquidos: 3,024 milhões de dólares
Número de balcões: 2
Número de empregados: 43
Fonte: Exame Angola
