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    Portugal: Algarve em chamas, fumo e cinzas já chegam a Faro

    O fogo que arde há dois dias na serra do Caldeirão, com início no concelho de Tavira, no Algarve, galga em quatro frentes, ainda de forma incontrolável e ameaça entrar no concelho de Loulé.

    Mais de quatrocentos bombeiros, apoiados por seis meios aéreos, combatem o maior incêndio dos últimos oito anos no Algarve. O fumo e as cinzas já se fazem sentir a mais de cinquenta quilómetros de distância, chegando à cidade de Faro. Nest domingo à noite, o fogo entrava já no concelho de São Brás de Alportel. As estimativas apontam para uma área ardida na ordem dos 2500 a 3000 hectares.

    Milhares de sobreiros da serra algarvia, a principal fonte de rendimento do local, estão a ser consumidos pelas chamas, que saltam de cerro em cerro, mais velozes que os aviões que deitam água. As populações sofrem com as árvores queimadas, o ar torna-se quase irrespirável. Os habitantes das aldeias de Cachopo e Feiteira foram forçadas a abandonar as suas casas.

    O incêndio deflagrou em quatro frentes, duas das quais mais activas – saltou ontem do concelho de Tavira para Castro Marim (Monte São Francisco) e ao final do dia, estava à portas de São Brás de Alportel, o concelho que produz as rolhas de cortiça para as marcas mais famosas do champanhe francês.

    O fogo começou na Catraia, na quarta-feira, ao início da tarde, numa zona onde está a ser montado um parque eólico. No terreno do combate às chamas, encontram-se corporações dos bombeiros do Algarve, Beja, Évora e de Setúbal.

    Diante de um cenário, marcado por zonas acidentadas, os meios aéreos têm desempenhado um papel estratégico, mas insuficiente para combater o fogo. Um dos aviões de combate às chamas teve ontem de amarar, quando procedia a reabastecimento na barragem do Roxo, perto de Beja, devido a uma falha técnica, mas o piloto saiu ileso.

    Idalina Santos, após 40 anos de emigração no Canadá, regressou à terra onde nasceu, a Feiteira. “Vi o inferno a aproximar-se”, disse. O fogo, a uma distância de quatro quilómetros de casa, “metia respeito, sufocava, pelo calor e medo que impunha”. A meia da tarde de ontem foi resgatada pelas autoridades, transportada para o Centro de Dia, no Barranco do Velho.

    O centro recolheu mais de três dezenas de pessoas, trazidas pela Protecção Civil, por estarem ameaçadas pelo avanço do fogo, em direcção a Cachopo e Feiteira. Maria Santos, proprietária do Café Brito, da Feiteira, ao final do dia, desabafava: “Não sei se o meu coração aguenta uma coisas destas”. A idosa, sentada à porta do Centro de Dia, perguntava, inquieta: “Quando é que nos vêem buscar?”. A neta respondia: “Tenha calma, avó, o fogo já vai longe, noutra zona”. Era essa a notícia que corria.

    No café Ponto de Encontro, no Barranco Velho, os moradores das zonas dispersas da serra do Caldeirão, aproveitaram a pausa do final do dia, para fazerem o balanço da situação. “Será que ele vai virar para aqui?”, perguntava João, um jovem carpinteiro, a esboçar estratégia de combate a incêndios. “Isto está feio, muito feio”, dizia, enquanto apontava para o horizonte, coberto de nuvens espessas de fumo, avermelhado pelo contraste das cores do pôr-do-sol. Por aqui, recorda-se o incêndio de 2004, que partiu de São Barnabé, no Baixo Alentejo, atravessou metade da serra do Caldeirão, “e só parou quando quis”. Na altura, houve alguma indefinição na gestão dos meios aéreos, e o combate ao fogo, em força, só se verificou quase ao fim de uma semana de ter eclodido, “quando as cinzas chegaram às praias e às piscinas dos empreendimentos turísticos”.

    O incêndio levou ao corte da estrada nacional 124, entre Tavira e Cachopo, e da estrada nacional 397. Ao final do dia, Joaquim Estêvão, de 82 anos, pedia: “Quero ir para a minha casa”. Os funcionários do Centro de Dia apelavam à calma. Por outro lado, Maria Santos não se conformava. “Tenho uma cortiça que saia este ano, deve ter ardido tudo”.

    FONTE: Público

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