O desenvolvimento de África, 50 anos após as primeiras independências, tem de ser feito pelos próprios africanos, pois já está “definitivamente ultrapassado” o tempo de culpabilizar “os outros” pelo atraso no continente, afirmou hoje o presidente de Cabo Verde.
Na abertura da conferência “África Reinventa sua Governação”, que decorre na Cidade da Praia até quinta-feira, Jorge Carlos Fonseca sublinhou ter chegado a hora de os africanos se responsabilizarem pelas soluções e pela construção do continente.
“Este ambicioso projeto parte do pressuposto que, nos primeiros 50 anos das independências, têm sido adotadas proposições institucionais e políticas, muitas vezes importadas, que não levam em conta as realidades locais. Não têm favorecido o aproveitar das potencialidades e a melhoria das condições de vida das populações”, disse.
Jorge Carlos Fonseca salientou a necessidade de se prepararem as questões que “realmente interessam” ao continente africano, como a organização das sociedades em torno de valores e princípios partilhados, as relações entre a tradição e a modernidade, a refundação do Estado pós-colonial através da descentralização e integração regional, a promoção de uma gestão adaptada e inclusiva dos assuntos políticos e a construção das condições de segurança e paz duráveis.
“Encontramo-nos num mundo caracterizado por uma globalização assimétrica que tende a secundarizar o nosso continente, que tem de construir o seu lugar no mundo. Tal não acontece porque, infelizmente, em grande parte devido a jogos políticos – muitas vezes orquestrados fora do continente, mas que, nele, encontram importantes e decisivas conivências – que muitos conflitos dilaceram áreas importantes com o seu cotejo de dor, sofrimento e morte”, defendeu.
“Somos também confrontados com consequências locais de políticas internacionais e nacionais com repercussões negativas nas condições de vida das pessoas. Esta realidade é agravada pela emergência do crime transnacional, que introduz um elemento de grande instabilidade que corrói o tecido social e amiúde paralisa o aparelho de Estado”, disse.
“Não podemos ignorar que este quadro é muito favorável à atividade de grupos extremistas que se alimentam do desespero e da falta de perspetivas. Cabo Verde insere-se numa região em que essas questões têm assumido importância crescente, o que muito nos preocupa”, concluiu.
FONTE: Lusa