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    Ex-militares das antigas FAPLA E FALA descontentes com valor dos subsídios

    Os ex-militares das antigas FAPLA e FALA que receberam o subsídio a que dizem ter direito pelo serviço relevante que prestaram à pátria num momento de conflito dizem estar descontentes com o montante que está a ser atribuído.

    O antigo coronel Francisco Salvador, 60 anos, defende que os mais altos funcionários do Ministério da Defesa e os oficiais superiores do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas deviam rever o valor dos subsídios, tendo em conta a actual realidade sócio económica, porque o valor é irrisório.

    “Concordo que a politica do subsídio deve ser atribuído em função da patente que tínhamos, mas é preciso termos em conta que é graças a nós que o país tem hoje estabilidade e não pode existir uma grande disparidade com o ordenado daqueles que estão no activo ou na reserva”, defendeu o ex-militar que se encontrava na manhã desta Terça-feira, defronte as instalações do regimento da Polícia Militar, no Grafanil.

    Apesar de ter recebido o subsídio há alguns dias, o nosso interlocutor regressou àquele local em companhia de um antigo companheiro que ficou deficiente, vítima de mina terrestre.

    Com os nervos a flor da pele, por não ter visto o seu nome em nenhuma das listas fixadas naquela unidade militar, o então camionista do Estado Maior General, Adão Francisco Manuel, vulgo Vagabundo (nome de guerra), manifestou-se preocupado pela forma como os responsáveis pela área de processamento dos subsídios estão a proceder.

    Para ele, deveriam priorizar as pessoas que estivaram mais tempo nas frentes de combate e que já vêm aguardando há vários anos. Pelo andar da carruagem tudo indica que podem ficar ainda sem receber nesta fase, porque ainda não foram enquadrados nas listas.

    “A minha primeira preocupação cinge-se na forma como estão a tratar estes mais velhos que encontramos nas frentes de combates nos anos 80 e que depois de serem desmobilizados há mais de 10 anos até hoje não foram enquadrados na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas”, disse, olhando para dois anciãos que se encontravam ao seu lado.

    De seguida, apresentou o seu descontentamento pelo facto de não está a ser reconhecido o esforço desempenhado por vários indivíduos que foram retirados das suas moradias e escolas a força para darem o seu contributo na defesa da integridade territorial de Angola. “Estão a nos entregar uma quantia monetária que varia entre 20 a 55 mil Kwanzas. Será que as nossas vidas só valem isto? Será que o nosso Estado não pode nos dar um subsídio condigno para que possamos custear também a formação dos nossos filhos?”, questionou Vagabundo. O nosso interlocutor recordou que estava prestes a concluir o ensino médio, nos anos 80, quando foi recrutado para integrar as fileiras militares, onde esteve prestes a perder a vida em combate na província do Uíge.

    Durante o tempo em que esteve ao serviço do Estado Maior General, percorreu por 16 das 18 províncias do nosso país ao volante de um camião militar, com excepção das províncias do Namibe e Cabinda. Após abandonar a vida militar, em 1997, Vagabundo serviu-se da experiência adquirida para conseguir o emprego de camionista. “Pelo andar da carruagem, já não tenho tanta esperança que os nossos nomes serão inseridos nas próximas listas, porque há pessoas que entraram nas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola(FAPLA), antes de mim, isto é nos anos 60 e 70, e estão na mesma situação”, desabafou com um certo desgosto.

    DESMOBILIZADOS EM DESESPERO

    O ancião Armindo Gonçalo António, 64 anos, defende que para além dos pagamentos dos subsídios deve ser feita imediatamente a integração dos seus companheiros na Caixa de Previdência e Segurança Social do Ministério da Defesa, em vez de continuarem inscritos nos serviços de segurança social dos Antigos Combatentes ou do regime geral, tutelado pelo Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS).

    “É importante que as pessoas saibam que não ficavamos nas unidades limitados a engraxar os sapatos dos chefes, somos verdadeiros guerrilheiros e estivemos em diversas frentes de combate. No meu caso, por exemplo, passei a maior parte da minha vida a guardar um dos paióis de material bélico”, alertou.

    Furioso por mais uma vez não ver o seu nome em nenhuma das listas, o ancião manifestou o seu descontentamento com o facto de os processos estarem a caminhar de forma muito lenta, o que diz lhe estar a sair a bastante caro devido as constantes deslocações de táxi de casa para o Grafanil e vice-versa. “Estamos a perder tempo e a gastar muito dinheiro todos os dias com a corrida do táxi para virmos consultar as listas. Estamos a ser abandalhados de tal maneira que perdemos a nossa dignidade”, disse.

    Por seu turno, o senhor João Marcos, 48 anos, que foi recrutado em 1983 para integrar as fileiras militares no 179º batalhão, em Malange, tendo sido mais tarde enviado para o reforçar o 21º batalhão, no Moxico, partilha o mesmo sentimento de frustração dos seus companheiros.

    Depois de abandonar a vida militar, o nosso interlocutor conseguiu emprego numa empresa pública, cujo nome não aceitou revelar, onde aufere 15 mil Kwanzas por mês.

    “Peço encarecidamente ao governo que resolva o nosso problema o mais depressa possível porque estamos cansados de sofrer”, apelou.

    O processo de pagamento de subsídios dos desmobilizados que está a ser levado a cabo em conformidade com as deliberações do Executivo, começou oficialmente no dia 15 deste mês, no Regimento da Polícia Militar.

    A forma como o mesmo está a decorrer, levou um vasto número de desmobilizados a sair à rua na passada Quinta-feira, a pretexto de reivindicarem pensões de reforma, a concentraram-se nas proximidades do Terminal Doméstico do Aeroporto 4 de Fevereiro, do Largo da Maianga e do Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.

    Recorde-se que a 16 do corrente mês, o Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), numa nota de imprensa, alertou para o facto de dirigentes dos partidos UNITA, CASA-CE e do Bloco Democrático (BD) terem entrado em instalações militares, sem prévia autorização, interferindo na organização do pagamento dos subsídios de desmobilização e incitando os ex-militares a desobediência. Segundo noticiou a Angop. Lembrava que, à luz da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas, os quartéis, bases e demais instalações militares são locais protegidos, nos quais não são permitidos quaisquer actos que violem a segurança militar, assim como actividades de natureza política, susceptíveis de pôr em causa o carácter apartidário das FAA.

    Por esta razão, referia a fonte da Agência de Notícias, o Estado Maior General decidiu apresentar queixa-crime, à Procuradoria Geral da República, após identificar os dirigentes dos partidos políticos referidos.

    POLÍCIAS ‘BARRAM’ JORNALISTAS

    No momento em que os desmobilizados prestavam declarações a equipa de reportagem de O PAÍS foram interrompidos por dois agentes da Ordem Pública da Polícia Nacional, afectos ao Comando de Divisão do Kilamba Kiaxi, que estiveram na manhã desta Terça-feira defronte ao regimento da Polícia Militar “Campo do Grafanil”. O subinspector que chefiava a equipa, com o braçal número 1247, justificou a sua acção alegando que recebeu ordens expressas dos seus oficiais superiores para permitir que apenas imprensa pública fale com os desmobilizados e proceder de forma contrária caso apareçam jornalistas da imprensa privada.

    Os nossos esforços para obter alguma informação sobre o andamento deste processo e se o mesmo é feito durante todos os meses, diante dos mais altos responsáveis daquela instância militar, não tiveram êxito, alegadamente porque careciam de ordens superiores.

    FONTE: O País

    1 COMENTÁRIO

    1. O meu pai é ex-militar da ex-faplas já escreveu muitas veses mas nunca foi recunhessido deu a sua vida pelo país hoje cansado é jogado como se nunca tinha servido para essa pátria! Não venho aque pedir muita coisa que pelomenos dessem uma olhada para aquilonque um dia ele foi e servio gostaria que me dessem orientação para seguir as pirámedes por favor.

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