Domingas Saldanha, 66 anos, voltou a beber água potável três anos depois de o ter feito pela última vez, quando a Estação de Captação e Tratamento de Água da comuna da Barra do Dande, no Bengo, se degradou.
Com o retorno do funcionamento da estação de tratamento, mais de 11 mil habitantes das zonas rurais de Cabele, Dembos, Mafulo e da sede da comuna da Barra do Dande beneficiam de água potável.
Domingas Saldanha fez questão de assistir à inauguração da estação, que lhe permite voltar a ter água potável e a não a obriga a acarretá-la do rio, longe de casa.
“Utilizávamos a água do rio até para beber e só não apanhamos doenças porque o organismo ficou habituado”, recorda.
Georgina Romão, 48 anos, já não ia ao rio, como fez durante anos a fio, mas iam os filhos e netos e por isso também está satisfeita.
“Era muito cansativo. Felizmente, o sofrimento acabou, vivo próximo do chafariz”, referiu.
Carla António, 20 anos, e Nazaré Gonçalves, 29, também tinham de percorrer o calvário e por isso estão contentes por saberem que água potável corre diariamente no chafariz próximo de onde moram.
“Agora até já lavamos a roupa em casa. Antes tinha de ser no rio porque era muito cansativo acarretar água”, frisou.
Também utilizavam a água do rio para beber, mas colocavam pedra-pomes como filtro no recipiente que a continha, o que até há dias era a prática comum na zona.
Agora, os habitantes dos musseques Cabele, Dembos e do Mafulo e da sede da comuna da Barra do Dande já têm acesso a água potável a partir dos chafarizes reabilitados recentemente pela administração local.
A reconstrução da estação de tratamento de água, constituída por uma área de captação, armazenamento, tratamento e distribuição, está orçada em dez milhões de kwanzas, incluindo a compra do gerador de 165 KVA e das bombas. Os técnicos da Administração Municipal passam a velar pelo funcionamento da estação, que posteriormente permite também o abastecimento de água potável aos habitantes do musseque Catanga, disse, ao Jornal de Angola, o especialista Adelino Fernandes. “Neste momento, ainda não é possível por falta de uma conduta, mas em breve a tubagem começa a ser montada”, garantiu.
Os habitantes dos musseques Catumbo, Libongo e de Trindade ainda não é desta vez que dispõem de água potável. Para terem a mesma sorte de Domingas Saldamnha é preciso construir outra estação de captação e tratamento na comuna da Barra do Dande.
Apoio à escola
Os alunos da escola primária do musseque Cabele passam também ter acesso a água potável. Os técnicos da Angoflex, que reconstruíram a Estação de tratamento, estão a fazer uma canalização que permite que ela jorre nas torneiras do estabelecimento de ensino, ampliado e reestruturado, em Agosto, pela mesma empresa, em parceria com as petrolíferas BP e TOTAL. Desde que a escola beneficiou de obras, os alunos bebem água filtrada em bebedouros doados pela empresa Angoflex.
Para outros fins utilizam a água do reservatório geral, proveniente do chafariz, existente ao lado.
Quando a água ainda não chegava ao chafariz, por inoperacionalidade da estação de tratamento, o abastecimento era feito por camiões cisternas contratados também pela empresa.
A Angoflex assume igualmente as despesas com a manutenção da escola, segurança, limpeza e o abastecimento da merenda escolar.
Todo o apoio prestado no apetrechamento e no funcionamento daquele estabelecimento de ensino primário termina em Agosto, um ano após a reinauguração.
O director-geral da Angoflex, Gregório Athayde, disse, ao Jornal de Angola, que o acordo com o governo provincial do Bengo foi feito nestes termos para haver tempo de criar condições de assumir as despesas da escola, que não estavam incluídas no orçamento anterior.
“Visitamos regularmente a escola e temos sensibilizado, quer alunos, quer professores sobre a importância de ajudarem a preservarem a escola e a mantê-la limpa organizada, mesmo depois dela passar totalmente para a responsabilidade da Administração Municipal”, afirmou Gregório Athayde. O sub-director pedagógico da escola lamenta a perda, nos próximos dias, do apoio da Angoflex e não sabe quem passa a assumir essas despesas, uma vez que, até o momento, a administração municipal não respondeu a carta que dava conta da situação.
Tiago Fortunato disse que a direcção está preocupada, principalmente com a segurança da escola e a merenda: “se ficarmos sem segurança, os painéis solares, que fornecem energia à escola, as janelas, as portas e os livros que estão na biblioteca podem ser roubados”.
A escola, que antes das obras tinha três salas, tem agora sete, além de secretaria, biblioteca, duas casas de banho e três casas para o director, professores e professoras que vivem distante da localidade e estão uma semana sem irem a casa para não gastarem dinheiro com a deslocação.
Com ampliação e reestruturação, orçada em 60 milhões de kwanzas, a capacidade do estabelecimento de ensino passou de cerca de 70 para mais de 200 alunos.
A Angoflex é uma empresa angolana resultante de uma parceria entre a Sonangol, detentora de 30 por cento, e o grupo francês Technip, que detém o restante do capital.
Fábrica de tubos
A empresa tem na comuna da Barra do Dande uma base de enrolamento de tubos rígidos, considerada a maior do mundo, segundo o seu director-geral.
A base, com 4,4 quilómetros de comprimento e 780 mil metros quadrados, tem capacidade para produzir anualmente 300 quilómetros de tubos rígidos.
A Angoflex importa da Europa ou dos Estados Unidos da América os tubos rígidos em lances de 12 ou de 24 metros. Além de abastecer o mercado angolano, fez já a primeira exportação.
Tratou-se de uma encomenda para o Ghana, de 20 quilómetros de tubos rígidos para o projecto Jubileu. “Temos capacidade de produção maior do que as necessidades de Angola, mas não abastecemos todo o mercado nacional pois temos concorrentes”, disse o director-geral.
O maior desafio agora, declarou, é desenvolver as competências dos trabalhadores angolanos, 90 por cento dos 390 que constituem o pessoal, para poderem responder às exigências do mercado nacional, que é grande e não permite atrasos, nem falhas.
A Angoflex tem há oito anos no Lobito uma fábrica de umbilicais, que são os tubos que permitem a comunicação entre a plataforma e a cabeça do poço de petróleo.
Esta fábrica, salientou, é a única em África que produz este tipo de material para prospecção de petróleo em offshore.
Actualmente, a Angloflex produz 100 quilómetros de umbilicais por ano. Mas a intenção, segundo Grégorio Athayde, é atingir 150 a 200 quilómetros por ano, razão pela qual a empresa está a implantar dois novos carroceis para garantir maior produtividade.