A localidade do Zango IV continua a ser o principal destino das famílias que vivem em locais considerados de risco na província de Luanda. Desta vez, acolheu mais de 50 famílias que viviam ao longo da vala de drenagem do Cazenga, no bairro Cariango, em situação de perigo eminente.
No bairro Cariango, ao longo das duas margens da vala, várias famílias construíram as suas casas, cada uma à sua maneira e estilo, umas mais altas, outras mais largas. Certas cubatas foram erguidas com chapas de zinco e o quintal vedado com paus, papelões e algumas com blocos. Umas foram rebocadas e pintadas, outras não. Para lá da questão estética, o cheiro nauseabundo que as invadia era uma constante. Quando chegava a época chuvosa, a vala transbordava e inundava as casas. As famílias recorriam então a baldes e banheiras para retirar a água. A vala, além de constituir um foco potencial de doenças, também esteve na origem da morte de várias pessoas.
Agora, tudo isso faz parte do passado. As cubatas foram demolidas e as pessoas que nelas residiam realojadas no passado dia 16 no Zango IV, pela Unidade Técnica de Gestão de Saneamento de Luanda.
As famílias, informadas com antecedência da mudança, organizaram mobílias, roupas e outros utensílios, que foram transportados para a nova moradia em camiões da responsabilidade da Unidade Técnica.
Chegados ao Zango, depois de percorrerem uma “longa” distância, cada família recebeu os documentos e as chaves da casa na Administração local. A seguir, instalaram-se nas novas moradias de tipologia T3 (três quartos, duas salas, cozinha e WC), com chão de mosaico, janelas com cortinas, espaço vedado para fazer um quintal, água canalizada, energia eléctrica em algumas casas e noutras a instalar em breve.
Satisfação incontida
Defronte à sua casa, com a alegria estampada no semblante, a assobiar enquanto limpa um dos bancos de madeira que trouxe do antigo bairro, estava Guilherme António, 53 anos, marceneiro de profissão, que viveu mais de 20 anos a escassos metros da vala entre o Cariango e o Palanca.
Sem que fosse necessário interpelá-lo, Guilherme Augusto tomou a iniciativa de falar com o Jornal de Angola, para contar que “hoje é um dia de alegria para todos os que viviam em cubatas junto à vala do Cariango e do Palanca, sem condições. Aquilo podia chamar-se tudo, menos casas. Hoje, aqueles em quem nós votámos para nos governar fizeram a sua obrigação, que é construir casas para nós, que vivíamos muito mal”, afirmou.
Mas, ao Executivo, e em particular ao governo provincial de Luanda, Guilherme António pediu para fazer, também, um esforço de realojar em casas condignas, como as do Zango, os outros irmãos que ainda residem em zonas de risco, não só em Luanda como nas outras províncias.
“Estou confiante que isso vai ser feito, porque os nossos governantes sempre se preocuparam com a pessoa humana. É por isso que conseguimos a nossa paz sem chamar este ou aquele. Foi tudo devido à boa vontade do Presidente José Eduardo dos Santos, que é um homem de paz, como o são todos os membros do seu Executivo”, referiu.
Além de Guilherme António, outros moradores que residiam em zonas de risco e que foram realojados mostraram, também, a sua satisfação em receber uma moradia em condições. “É difícil, mas o que mais nos alegra é que estamos a viver numa zona segura”, afirmou Maria Victorino, 52 anos. “A partir de agora já posso convidar a família que está no Sambizanga, Nzeto e Lubango para vir passar uns dias a minha casa, porque tem condições. Ali parecia um lugar de animais. Aqui estou bem, embora ainda não tenha luz”
Maria Victorino, entre a tristeza e a alegria, recordou um dos momentos em que viveu na zona que separa o Cariango e o Palanca. “Quando me lembro, até começo a rir. Convidei os meus colegas para um almoço, num domingo. Assim que começámos a comer e a beber, a chuva desatou a cair. A água salobra (da fossa) começou a entrar na sala pelo chão. As pessoas já não conseguiram manter-se, tiveram de se retirar. Fiquei envergonhada. Felizmente conheciam a minha situação. Agora vou convidá-los para uma almoçarada e apresentar a humilde casa que recebi”, acrescentou.
A esfregar um bidão estava Esperança António, de 38 anos, doméstica de profissão. Tal como os outros moradores, ela também se sente feliz por ter saído de uma zona de risco. “Estou muito contente. Vivia numa casa de chapa ao lado da vala. Quando chovia, ficava no meio da água, com as crianças. Quando era demais, tinha de sair com as coisas na cabeça e as crianças, para casa da família. Agora, aqui, está tudo bem seguro, está tudo em ordem, já não vou precisar de sair de casa com as coisas por causa de chuva, estou muito bem”, disse.
Esperança António lamentou a falta de algumas infra-estruturas, como escolas, hospitais, creches, mercados e campos de jogos. “Disseram que vão construir depois. Vamos esperar, porque eu também ainda quero estudar. Aqui já dá para estudar”, referiu. Nelson Teixeira, 44 anos, funcionário público, que acabava de regressar do serviço na sua motorizada, depois da mulher lhe ter apresentado a casa, em poucas palavras, suspirou fundo e disse: “Até que enfim tenho uma boa casa”.
“Operação mudança” foi antecedida de estudos
Em serviço no Zango estava Mário Tiago, 43 anos, canalizador da Odebrecht. Garantiu que a empresa pôs várias equipas de trabalho no local para efectuarem a canalização e ligação de água às residências e cabos de electricidade ligados aos postos. “Esse serviço vai abranger todos os moradores, só que não é possível fazer tudo de uma vez. Estamos a trabalhar por partes, até concluirmos todas as obras no Zango”, frisou.
As operações de realojamento inserem-se no Programa de Saneamento executado pela Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda, criado por despacho Presidencial em Março de 2010, com a missão de atender a macrodrenagem da capital, o que tem sido feito com o apoio da empresa CIF – China Internacional Fundo.
O responsável garantiu que, antes da retirada das pessoas, foi feito um estudo sociológico da área para se determinar o tipo de casas, de famílias, nível de escolaridade e agregado familiar existente no local. “Neste momento, estamos a fazer a requalificação da vala de drenagem do Cazenga-Cariango, que tem uma extensão de 5.400 metros de cumprimento, com início no Cazenga e fim no distrito da Maianga”, explicou.
Em relação às infra-estruturas que ainda estão em falta no Zango IV, como escolas e centros de saúde, o responsável também garantiu que vão ser construídas, tal como foi resolvido o problema da água, que já está a jorrar em algumas torneiras das casas, e o da energia eléctrica.
“Estamos a trabalhar para cumprirmos tudo aquilo que faz parte da nossa agenda. A construção de escolas e centros de saúde é agora a prioridade”, rematou.