A mulher do primeiro-ministro da Guiné-Bissau e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, disse hoje à agência AFP que ele foi detido por militares e levado para “destino desconhecido”. Os militares atacaram a residência do casal na quinta-feira à noite, contou Salomé Gomes. “Meteram-no numa carrinha ‘pick-up’, que partiu rapidamente para destino desconhecido”, descreveu.
Salomé Gomes falou à AFP quando voltou a casa para recuperar as suas coisas.
Ao início da noite de quinta-feira, os militares fecharam várias ruas e foram ouvidos muitos disparos, alguns de armas pesadas. Os disparos terminaram cerca das 21:30 (22:30 em Lisboa) e a madrugada foi calma, sem registo de mortos ou feridos.
Os militares tomaram a rádio nacional, que entretanto já voltou a emitir. As Forças Armadas da Guiné-Bissau, através de um autointitulado Comando Militar, justificaram a intervenção armada, em comunicado, como um ato de defesa da instituição contra uma alegada agressão externa, que estaria a ser conduzida pelas Forças Armadas de Angola, no âmbito da União Africana.
Bissau estava esta manhã relativamente tranquila e a presença militar era pouco visível. A população, que na quinta-feira viveu momentos de pânico, começou a sair à rua e a circulação automóvel já é possível em ruas antes fechadas, como aquela onde mora o primeiro-ministro ou a da Presidência da República.
A Embaixada de Portugal, em frente da qual estavam também militares, já não regista a presença de qualquer tropa. Continua a desconhecer-se o paradeiro do presidente interino, Raimundo Pereira, que assumiu o cargo após a morte de Malam Bacai Sanhá.
Carlos Gomes Júnior foi o mais votado na primeira volta das eleições presidenciais, realizada a 18 de março e cujos resultados foram contestados por cinco outros candidatos, nomeadamente por Kumba Ialá, o segundo mais votado e uma figura muito influente entre a etnia balanta, que domina as forças armadas guineenses, e também pelo ex-presidente Henrique Rosa. A segunda ronda eleitoral está marcada para 29 de abril, mas Kumba Ialá já disse que não concorrerá.
O Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa vai reunir-se no sábado de manhã, em Lisboa, para discutir a situação na Guiné-Bissau. A reunião, segundo disse à Lusa o secretário-executivo da CPLP, foi decidida na sequência de Angola ter anunciado o fim da sua missão de apoio à reforma do setor militar da Guiné-Bissau (Missang).
Na segunda-feira, Angola anunciou o fim da missão de apoio à reforma do setor militar da Guiné-Bissau.
Fonte: SIC