O novo soberano do município do Bailundo é entronizado amanhã, numa cerimónia com a presença do Vice-Presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, membros do Executivo, do Governo Provincial do Huambo, familiares, amigos e convidados provenientes doutras províncias.
No mesmo dia do mês de Março de 2001, foi investido o quarto descendente da linhagem dos Ekuikui, o falecido rei Augusto Katchitiopolo. As delegações convidadas de outras ombalas e familiares do futuro rei, vindos da comuna de Luvemba e de aldeias vizinhas, começaram a chegar à ombala para assistirem à cerimónia de investidura do líder tradicional do Bailundo.
Fonte ligada à organização da cerimónia disse ao Jornal de Angola que mais de mil pessoas, entre sobas grandes, regedores, séculos e seus ajudantes vão assistir à entronização de Armindo Francisco Kalupeteca, numa cerimónia que tem início às seis horas da manhã, com o acender da fogueira, e termina com a uma grande festa.
Armindo Kalupeteca é descendente dos Ekuikui, bisneto de Kapiñgala Ekuikui, mais tarde conhecido por Ekuikui II, e neto de Augusto Katchitiopolo (Ekuikui II), falecido em 15 de Janeiro último.
Armindo Francisco Kalupeteca torna-se no quinto rei da linhagem dos Ekuikui, a partir desta sexta-feira, numa cerimónia que vai ser marcada por um forte ritual da tradição local, que culmina com a entrega da espada, como símbolo do poder do rei.
Antes da sua escolha pela Corte da Ombala (um conselho formado por 35 sobas), Armindo Kalupeteca trabalhou como braço direito do seu avô, Augusto Katchitiopolo. Foi a ele a quem foi incumbida a direcção dos destinos do reino, antes da entronização do novo rei.
Armindo Francisco Kalupeteca foi escolhido entre vários netos e descendentes do falecido rei, por ter mostrado maturidade para dirigir e porque, durante quatro anos em que trabalhou com o avô, conseguiu adquirir experiência para a materialização e conservação da cultura e tradição da região.
Comerciante e professor
O novo rei tem 38 anos, é casado e pai de sete filhos. É o mais novo de todos os reis escolhidos até à data, goza de muita popularidade na Corte e na região do Bailundo.
Começou a trabalhar na Corte em 2008. Pertence a uma família numerosa, constituída por netos, sobrinhos e bisnetos do falecido rei Katchitiopolo.
Para além de ter sido comerciante, o novo rei do município do Bailundo é professor de profissão, foi secretário da igreja Fé Apostólica e é, actualmente, estudante do curso de Ciências Sociais. Armindo Kalupeteca afirma que a sua escolha não dependeu da família, foi escolhido pela Corte da Ombala.
“Eles viram o meu trabalho e o meu comportamento, e acharam que deveria ser eu a dirigir os destinos do reino do Bailundo, com ajuda de todos os mais velhos”, disse. Mas a escolha podia recair também sobre uma outra pessoa de outra linhagem de reis.
A escolha do rei é feita pelo conselho de sobas que, logo após a morte do soberano, reúne, para designar um substituto, que depois é aceite por todos e pela família que autoriza a sua investidura.
“Eu sou da linhagem, porque sou o neto do rei Augusto Katchitopololo. Somos muitos netos, só que quando ele viu que a sua saúde já não lhe permitia trabalhar, e porque a velhice também já pesava, então pediu o meu apoio e eu aceitei”.
Disse ter acumulado uma vasta experiência ao longo destes quatro anos em que trabalhou com o avô. Não tem contemplações na hora da justiça, trata todos da mesma forma e não vê a cara da família no momento de combater o crime, por isso, disse, é muito querido.
Poder tradicional
Armindo Kalupeteca afirmou que vai continuar a trabalhar arduamente, para dignificar o povo do Bailundo, os seus dirigentes, os sobas da Corte, independentemente da função de cada um na Ombala.
O novo soberano do Bailundo lamentou o facto de, até agora, as autoridades tradicionais ocuparem pouco espaço na vida do país, mas mostrou-se esperançado que, num futuro próximo, sejam melhor reconhecidas e valorizadas, tendo em conta o seu papel nas comunidades.
Os sobas da Corte são homens mais velhos que trabalham no palácio do rei e o seu número varia em função das necessidades.
Mas na Corte do Bailundo são 35 mais velhos que estão, diariamente, com o rei e ajudam a manter o reinado e a solucionar todos os problemas do povo.
É nas Ombalas que se faz a justiça quando alguém na aldeia comete qualquer crime.
Na Ombala, está o poder tradicional do povo da região. É lá onde são solucionados os problemas das populações a nível das comunidades.
Os seus dirigentes são muito respeitados, são os garantes da lei e justiça e da manutenção da ordem e tranquilidade das populações nas sanzalas, aldeias e regedorias.