O ministro das Relações Exteriores de Angola pediu hoje em Paris para não se dramatizar a situação” na Guiné-Bissau, mas defendeu que os guineenses “têm que se entender” e que os assassínios políticos “não podem ser um padrão”.
Falando à imprensa à margem de uma visita oficial a França, a convite do ministro dos Negócios Estrangeiros Alain Juppé, Georges Chicoti afirmou que “a questão da Guiné-Bissau tem constituído um problema, não só para Angola, mas para toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)”.
“A Guiné não poderá alcançar o seu desenvolvimento se não tiver paz. Mas o fundo da questão é que os guineenses têm que estar de acordo sobre o seu futuro. Têm que aceitar contribuir pacificamente para a consolidação da paz, têm que aceitar que todos os processos democráticos na Guiné-Bissau se processem de maneira pacífica, têm que entender que para todos os problemas pendentes têm que encontrar respostas dentro das instituições guineenses”, acrescentou, defendendo que é necessário que se avance com o processo de reforma do setor de defesa e de segurança do país.
Imprescindível ainda, defendeu, é que “haja um entendimento” entre políticos e militares e toda a sociedade civil: “Não pode ser um padrão em que todos os dias ou todas as semanas termos alguém que é assassinado (no domingo à noite, o ex-chefe dos serviços secretos militares da Guiné-Bissau coronel Samba Djaló foi assassinado) ou foge para uma instituição (Zamora Induta, ex-chefe de Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, pediu, na quarta-feira, refúgio na delegação da União Europeia em Bissau). Esses problemas têm que ser resolvidos muito rapidamente”, disse.
Na terça-feira, cinco dos principais candidatos às eleições presidenciais na Guiné-Bissau, realizadas no passado domingo, exigiram a “nulidade” da votação e um novo recenseamento eleitoral “credível”.
Sobre a possibilidade de o candidato Kumba Ialá, que passou, atrás de Carlos Gomes Júnior, à segunda volta das eleições, não ir a votos, Georges Chicoti afirmou que “não se deve especular”.
“O direito de participar é dele e o direito de não participar também é dele. A questão essencial é que a segunda volta das eleições tem que ocorrer. Os dados indicam que o senhor Kumba Ialá é um dos candidatos na segunda volta. Logo, não podendo ele fazê-lo, acho que a solução tem que ser encontrada entre os guineenses. Carlos Gomes ainda não está eleito porque não tem os 50 mais um de que precisa para ser logo eleito. Não podemos dramatizar. Temos que ver para onde o povo guineense quer ir”, argumentou.
O chefe da diplomacia angolana defendeu ainda, a propósito das ações que Angola e a Nigéria vão coordenar para apoiar a reforma dos setores de Defesa e Segurança da Guiné-Bissau, que é preciso “acelerar” a coordenação entre as Nações Unidas e os diferentes parceiros: “Há uma contribuição significativa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), de 23 milhões de dólares, e eu acho que se houver mais contribuições poderemos dar passos significativos”.
Angola, que detém a presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), mantém desde 21 de março em Bissau cerca de 200 efetivos das suas forças armadas e polícia nacional, integrados na MISSANG para apoiar a reforma do setor de defesa e segurança da Guiné-Bissau.
Fonte: RTP