Cidade adormecida. Assim, ainda é a vida no Kilamba, o maior projecto habitacional até agora construído. Concebido para albergar milhares de famílias, o empreendimento acolhe actualmente um número que fica muito além do preconizado. Os altos preços na venda dos apartamentos, entre 125 e 200 mil dólares, tem sido apontado como o motivo para a desistência na compra dos imóveis e, consequentemente, o actual vazio que a cidade apresenta.
Para saber como está a ser a vida no Kilamba, o Novo Jornal visitou esta semana o local e conversou com alguns dos primeiros moradores da cidade, que entre a alegria e a satisfação de serem residentes da nova urbe, mostraram-se descontentes com alguns problemas que pensavam ter deixado para trás: “As falhas no fornecimento de água e luz eléctrica”.
Na cidade do Kilamba, a água está a ser o maior problema, o que tem deixado os poucos moradores com os nervos à flor da pele. Um residente que não se quis identificar disse à nossa reportagem que ficou durante cerca de 10 dias sem água no seu apartamento, devido à descida do caudal no Kikuxe, segundo informações recebidas dos técnicos da EPAL.
O morador, que reside naquela cidade há cerca um mês, vive no primeiro andar de um dos edifícios de 10 andares, que actualmente é ocupado por apenas por dois moradores. “Mas o outro quase não vive aqui. Ele está sempre fora da cidade”, notou, relatando os momentos vividos pela falta de água.
“De vez em quando, a água não sobe porque a pressão é baixa e nós somos obrigados a ir buscá-la lá em baixo. Pegamos nalguns bidões e transportamos. Isto é inadmissível para uma cidade imponente como esta”, desabafou o morador, informando que a luz eléctrica também tem as suas intermitências.
“Já tivemos falha de luz por duas ou três vezes”. Anteontem, a luz foi por volta das 19h00 e só regressou de manhã. Eu estava de regresso a casa e encontrei a cidade toda às escuras.
Meu, já viste o que é andar numa cidade destas, vazia e escura. Mas, fazer o quê? Este é o nosso país”, reclamou o interlocutor, para quem o problema no fornecimento da água e luz reside na falha de fiscalização por parte dos técnicos angolanos.
Desentendimentos Conta, por exemplo, que o sistema de pagamento da luz eléctrica concebido é o do pronto pagamento, ou seja pré-pago, mas, no seu entender, devido à falta de passagem de testemunho sobre o manuseamento do equipamento, os técnicos angolanos optaram por cancelar o sistema, passando- o para o pós-pagamento.
“Aqui parece-me que há desentendimentos entre os técnicos chineses e os angolanos. Os chineses não instruem os angolanos sobre como trabalhar com o sistema porque pensam que vão ficar em Angola para toda a vida. Então, às tantas, cada um faz o que quiser. Agora os angolanos fizeram ligação directa e o sistema deixou de ser pré-pago. A contagem do consumo agora é feita aleatoriamente”, explicou a fonte que teme o agudizar da situação com o aumento de mais moradores na cidade.
“Não temos fontes alternativas quando a luz geral vai. Tudo fica escuro. Não existem reservatórios de água. É pá, já viste quando houver mais moradores!? Esse traz gerador, aquele tanque de água. Isto vai ser uma desordem”, advertiu o interlocutor.
Já António Victorino, um outro morador a residir no kilamba há duas semanas, disse que se sente feliz por morar naquela cidade e por ser um dos primeiros residentes desta zona, “calma e bonita para viver”.
O morador que, na companhia de sua mulher e dois filhos, forma os únicos ocupantes do edifício L16 de quatro andares, mostrou-se igualmente preocupado pelos defeitos encontrados na nova urbe.
“Bem, somos das primeiras famílias a morar aqui. Logo, somos os primeiros a apontar os defeitos. Estou com problemas de luz nas escadas. Já fizemos a reclamação e até agora nada. Eles dizem que a luz trabalha com sensores que precisam ser ligados.
Agora quem vai ligar, ninguém sabe, se são os chineses ou os angolanos. Este é o baile que nos estão a dar”, explicou Victorino.
Às escuras Quanto à água – continuou o interlocutor – “disseram que os tubos que dão acesso estavam nos apartamentos fechados, porque não havia morador.
Então, havia necessidade de passar o técnico e foi feita a abertura. Apanhamos esta fase da falta de água na cidade de Luanda, e a água corre com pouca pressão. Algumas vezes sai e outras vezes não. Agora mesmo não tenho água”, disse o interlocutor, confirmando igualmente a falha de luz naquela cidade.
“Olha, o dia que mais me arrepiou foi quando chegámos aqui à cidade e encontrámo-la toda escura. Já vivo num prédio sozinho, agora a cidade às escuras foi sinistro, mas o problema foi resolvido no dia seguinte.
Disseram-nos que foi uma avaria na estrada do Camama. A luz não falha tanto, mas a água é a nossa maior preocupação”, disse o antigo residente da Terra-Nova, no distrito do Rangel.
Depois de Victorino, procurámos ouvir outros moradores que não aceitaram falar, evitando a exposição, segundo explicaram. Acabámos por ser acolhidos na casa de Rita Victorino, irmã de um dos nossos entrevistados.
A cidadã, que reside naquela cidade há cerca de 12 dias, mostrou-se igualmente feliz por ali habitar na companhia de sua família. Após a saudação, a filha de dona Rita, que aparentava ter oito anos, reclamou da falha de luz. “Eu fico irritada quando a luz vai. Aqui fica muito escuro e não gosto”, disse a menina aos repórteres.
Rita Victorino contou-nos a sua experiência de poucos dias no Kilamba. “Há muita paz. Os edifícios quase não estão habitados. Mas a nossa preocupação é a água que ainda não é regular, embora os senhores da Epal tenham estado aqui ontem, segunda-feira 20, a dizer-nos que a partir da próxima semana a água será regular”. A mesma confirma o que os antigos moradores disseram. “Durante estes dias, a água está difícil. Temos que mandar puxá-la lá de baixo. Não sei de onde sai, se é do reservatório, mas de quando em vez temos água”, disse.
Fonte: Novo Jornal